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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
AS MULHERES, ENFIM, NO SEU DEVIDO LUGAR
   
Decorreu um século e meio, exatos 139 anos, para uma mulher assumir de novo o comando supremo do Brasil. A primeira vez foi em 1871, quando Isabel, a jovem princesa de 24 anos, assumiu a função de regente no Segundo Império, para assinar 17 anos depois a lei que tornou o país o último das Américas a abolir a escravidão. Finalmente, em 2010, Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher eleita presidente em 122 anos de história republicana.

Foi um longo caminho de afirmação feminina, que não tem mais volta. As mulheres começaram a deixar o claustro doméstico e as miúdas obrigações de dona-de-casa no período entre as duas Guerra Mundiais, de 1914 a 1945, para suprir nas trincheiras das fábricas as vagas abertas pelos homens enviados às frentes de batalha. Elas ocuparam seus espaços, firmaram posições e avançaram cada vez mais - na economia, na política e na construção de um mundo melhor, mais justo, mais igual.

Em pleno século 21, as mulheres africanas têm 175 mais chances de morrer durante o parto do que as mulheres do mundo desenvolvido, segundo a ONU. Em 2000, 95% das 529 mil mortes de mulheres no parto ocorreram na África. No pântano da região mais pobre do mundo nasce, também, o lírio da esperança. Em 2005, Ellen Johnson Sirleaf tornou-se a primeira presidente eleita na África, recebendo do povo da Libéria o encargo de resgatar um país devastado pela ditadura que o mergulhou numa sangrenta guerra civil 14 anos. A líder liberiana é hoje uma das 17 governantes do mundo, ao lado da brasileira Rousseff, num planeta de 192 nações representadas na ONU. Apenas uma delas não foi eleita: Roza Otunbayeva assumiu o poder no Quirguistão após um golpe de Estado.

As mulheres avançam num mundo ainda dominado pela presença masculina. Embora some 49% da população, o universo feminino representa apenas 10% das receitas mundiais e detém somente 1% da riqueza mundial. O homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, magnata das telecomunicações, ficou US$ 5 bilhões mais pobre no ano passado, mas ainda puxa a fila dos bilionários com US$ 69 bilhões. A mulher mais rica do mundo possui pouco mais que um terço da fortuna do homem mais rico: a americana Christy Walton, herdeira de Sam Walton, fundador da Wal-Mart, a maior rede de varejo do mundo, lidera o pelotão das bilionárias com 'apenas' US$ 25 bilhões.

O ranking das 100 mulheres mais poderosas do mundo em 2011, segundo a revista Forbes, lista oito chefes de Estado e 29 presidentes-executivas das maiores corporações mundiais, controlando juntas US$ 30 trilhões - duas vezes mais do que o PIB dos Estados Unidos, o maior do mundo, cinco vezes o da China, quase 15 vezes maior do que o do Brasil. Esta elite feminina tem em média 54 anos, 22 delas permanecem solteiras. A brasileira Rousseff, 64 anos, separada, é a terceira mais poderosa do mundo, logo atrás da alemã Ângela Merkel, 57, e da americana Hillary Clinton, 64, ambas casadas. A rainha britânica Elizabeth II, 86 anos, casada, amarga um distante 49º lugar.

Quase metade (44%) da população economicamente ativa do Brasil é formada por mulheres, mas elas ocupam apenas 14% dos cargos de direção das 500 maiores empresas brasileiras. Em apenas seis anos, entre 2003 e 2009, segundo o IBGE, aumentou em 20% a fatia feminina na mão-de-obra ocupada das seis maiores regiões metropolitanas do país, algo próximo a 10 milhões de mulheres - quase a população de São Paulo, a maior cidade do continente. Apesar disso, a desigualdade econômica persiste. Embora tenha em média um ano mais (9 a 8) de estudo em relação aos homens, as mulheres ainda ganham cerca de 50% menos para desempenhar as mesmas funções. É um drama mundial, que afeta até a Suécia, paraíso da igualdade, onde a mulher recebe 71% do salário de um homem de mesmo nível.

Na política, as mulheres avançam mais rápido que na economia. O direito ao voto feminino foi concedido no Brasil só em 1932, mas a igualdade de gênero só foi reconhecida como direito fundamental na última Constituição, a de 1988. A primeira mulher eleita para um cargo público no país (Alzira Soriano) conquistou a prefeitura de Lajes, Rio Grande do Norte, em 1928, ainda na República Velha. De lá para cá, a situação melhorou um pouco: são 22 deputadas federais entre 513 na Câmara, 12 senadoras entre 81 no Senado, duas governadoras entre 27, 6.508 vereadores entre 51.960 em todo o país.Embora seja a oitava e ascendente economia do mundo, o Brasil ainda amarga o 106º lugar no ranking mundial de participação feminina na vida parlamentar.

Ainda é insuficiente para dar ao Brasil o patamar de país civilizado na partilha dos gêneros. O advento de uma mulher na cadeira suprema do Palácio do Planalto produziu uma marca inédita na administração federal: dez mulheres no cargo de ministro, um quarto da Esplanada dos Ministérios. "É uma situação sem precedentes no Hemisfério Ocidental", espantou-se o chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade de Houston, Texas, Mark P. Jones, falando à revista Época: "Em nenhum outro país houve um presidente cujo pequeno círculo de poder tivesse tantas mulheres".

Os altos índices de popularidade que a presidente Dilma Rousseff preserva, após um ano de mandato, mostram que o poder feminino está sendo bem avaliado. Um outro preconceito machista está sendo varrido para o lixo da história pelo bom resultado do atual governo: mulher é talvez mais competente para a inadiável faxina dos palácios, do poder e da política. Os homens só têm a agradecer.



   
 
 
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