Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Existem 99 nomes para louvar o deus dos muçulmanos com superlativos que não admitem dúvidas sobre seus atributos: misericordioso, soberano, poderoso, onipotente, majestoso, onisciente. O primeiro nome é Alá, a palavra árabe para o deus que, segundo seus fiéis, tornou Maomé o último profeta na Terra que teve Abraão, Moisés e Jesus como seus antecessores.
É uma divindade contraditória, segundo suas variadas definições. É um deus que honra (Al Um'izz, número 25) e que também desonra (Al Mudhill, 26). É o doador da vida (Al Muhyi, 61) e o criador da morte (Al Mumit, 62). Pode ser o vingador (Al Muntaquim, 81) e também o que perdoa (Al' Afuww, 82). Para boa parte da humanidade que teme o islamismo, contudo, Alá pode ser melhor definido por dois nomes específicos: o que causa preocupações (Al Darr, 91) ou aquele que expande (Al Basit, 22).
A ameaça de um mundo majoritariamente muçulmano, na verdade, é o que mais assusta o chamado mundo ocidental, de confissão judaico-cristã, ainda atormentado pelas cenas de terror da face radical islâmica derrubando as Torres Gêmeas de Nova York, no alvorecer do século 21. É a religião mais numerosa no mundo, como reconhece o próprio Vaticano desde 2009, quando os muçulmanos atingiram a marca de 1,3 bilhão, contra 1,1 bilhão de católicos. Uma de cada cinco pessoas do mundo já louva seu deus pelo Corão, o livro sagrado que, para eles, traz a versão inalterada, perfeita, da revelação divina.
Neste ritmo atual de expansão, o deus Al Basit será adorado por 30% da humanidade até 2030, no espaço de apenas cinco Copas do Mundo. Os cristãos estarão reduzidos a um quarto da população mundial. Alguns fatos ajudam a entender esse crescimento. A primeira é a diferença nas taxas de fertilidade entre os adeptos das duas religiões. O número de filhos por mulher cai nos países de maioria católica há mais de uma década. São sociedades modernas, em que as mulheres dão prioridade à profissão e o custo da educação dos filhos ajuda na decisão de optar por uma família menor. Na Itália e na Espanha, tradicionais redutos do catolicismo, os índices de fertilidade estão entre os mais baixos do mundo.
Até 2050, o planeta ganhará mais 2,7 bilhões de habitantes. Desse total, 40% virão da região mais miserável do planeta, a África Subsaariana. Outros 30% virão de países majoritariamente muçulmanos. Apenas 1% virá das nações ocidentais ricas, onde o cristianismo está mais consolidado.
Na Europa, a taxa média é de 1,37 filho por mulher, bem abaixo dos 2,1 necessários para manter o tamanho da população. A França, em apenas quatro décadas, tornou-se o país da Europa ocidental de maior população muçulmana: são hoje cerca de 6 milhões de pessoas, 10% da população francesa, metade deles nascidos no país. É o que torna a França cada vez mais sensível ao movimento xenófobo que levou Nicolás Sarkozy ao poder em 2007 e que deu à ultrarradical de direita Marine Le Pen (surpreendentes 19% de votos do primeiro turno de 22 de abril ) o poder de decidir a eleição presidencial de 2012, no segundo turno do próximo domingo, 6.
Na maior parte do mundo islâmico, o índice de natalidade se mantém bem acima da média de reposição populacional. Dos dez países com as maiores taxas de fertilidade, seis são de maioria muçulmana. No Afeganistão, que lidera o ranking, a média é de sete filhos por mulher. Ou seja, confirmando Al Darr, o deus que causa preocupações, o mundo num futuro não tão distante terá hegemonia muçulmana.
O passado, porém, exalta a contribuição muçulmana à civilização ocidental. Em sete séculos de ocupação na Península Ibérica, a partir de 711 d.C, o Islã foi uma ponte entre a Europa medieval e a cultura da Antiguidade clássica, traduzindo obras da China, Índia e Grécia, desenvolvendo a cartografia e a astronomia, a química e a medicina, a arquitetura e a matemática, de onde herdamos os números arábicos e sua mais crucial invenção - o número zero, elemento vital do sistema binário que sustenta a lógica do computador e a era da informática. Os muçulmanos aperfeiçoaram a agricultura, cunharam moedas, edificaram monumentos da civilização europeia eternizados em cidades como Sevilha, Córdoba e Toledo.
Abriram rotas de comércio que buscaram a seda da China, as especiarias da Índia, as riquezas do Nilo, fazendo o trânsito entre Ocidente e Oriente que tornava o mundo mais rico, mais sábio, mais culto. Pela expansão comercial em tempos de paz ou pela ação militar das expedições guerreiras dos tempos das Cruzadas, o islamismo se expandiu, conquistou terras, eras e mentes. A face bárbara do terrorismo do século 20 não pode esconder a força positiva do Islã na construção da história do homem.
A minoria radical dos grupos terroristas que interpretam o Corão por sua versão mais ortodoxa acaba dando realce aos aspectos mais atrasados de uma religião que rejeita o progresso ao cair no abismo do fundamentalismo. Nada assusta mais do que a visão machista e o preconceito inarredável contra as mulheres, ocultas sob véus que escondem o brilho dos olhos e amaldiçoam a beleza do corpo. O céu dos muçulmanos é muito melhor do que o paraíso dos católicos - desde que o abençoado seja homem.
Eles, segundo o Corão, têm leitos cravejados com ouro e pedras preciosas, servidos de frutas e bebidas por jovens dadivosas que lhes concedem sexo incondicional, mas permanecem sempre virgens. E cada homem tem direito a 100 virgens. Talvez seja uma explicação para a fanática decisão de tantos homens-bomba que escolhem o martírio da morte e do terror para gozar, antecipadamente, as delícias deste paraíso bestial.
É bizarro que, após tantas provas de civilização na história, o muçulmano retroceda violentamente nos modos como radicaliza seu comportamento na condição de fiel de Alá. No mundo árabe, existem estradas separadas para fiéis e infiéis. Mulheres e homens não podem apertar as mãos, muçulmanos não tocam infiéis, só muçulmanos podem cortar e preparar carnes em açougues. Homossexualismo é rigorosamente punido e adúlteros não têm perdão: as mulheres são apedrejadas e os homens, decapitados. Bocejar é obra de satanás, principalmente na hora sagrada das cinco orações diárias, e o homem só pode urinar agachado, desde que não esteja de frente ou de costas para a cidade sagrada de Meca. Blasfêmias em charges e livros podem levar à pena de morte.
O mundo civilizado não merece este deus que atrasa, que retarda, conhecido como Al Mu'akhkhir, o 72 entre os 99 nomes de Alá. Os muçulmanos, e o mundo, ganharão muito se louvarem Al Bari', 13º nome de Alá para o deus que concebe e que faz evoluir. Salaam!