A CRISE DO ORIENTE MÉDIO E AS REPÚBLICAS ISLÂMICAS
Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
O Oriente Médio, hoje constituído por várias repúblicas islâmicas, controladas pelas irmandades mulçumanas, em sua maioria anti-americanas, enfrenta uma das maiores crises de estabilidade, desde o final da segunda guerra.
O Irã, foco maior da crise junto com a Síria, está sendo denunciado por Israel, segundo o qual estaria em fase final da fabricação de uma bomba atômica para estar pronta no máximo em seis meses, ameaça bombardear as instalações nucleares do país, para abortar a fabricação da bomba.
Se tal acontecer o Aiatolá Ali Kamenei, líder maior iraniano, ameaça tirar o país da fiscalização Agência Internacional de Energia Nuclear e fechar o Estreito de Ormuz, por onde é escoado 60% do petróleo para o Ocidente.
Mas uma forte presença militar liderada pelos Estados Unidos, com a participação das Marinhas de mais 20 países, encontra-se no Golfo Pérsico em manobras e promete impedir o fechamento da passagem.
Ao mesmo tempo, um vídeo feito nos Estados Unidos, denegrindo, segundo o mundo mulçumano, o Profeta Maomé, provocou a ira das multidões islamitas na região e começa a se alastrar para outros países, como a Indonésia eAustrália.
Por isto, após seis dias de protestos contra os EUA por todo o mundo islâmico, a Casa Branca está se preparando para um período prolongado de turbulência, que testará a segurança das missões diplomáticas americanas e a habilidade do presidente Barack Obama de moldar a nova cara da região.
Embora as manifestações mais violentas tenham diminuído, segundo notícias divulgadas por agências internacionais, funcionários de alto escalão do governo americano concluíram que os protestos podem ser o presságio de uma crise de longo prazo com imprevisíveis consequências políticas.
Por isso, ao mesmo tempo em que pressiona os líderes dos países islâmicos a agir para conter a revolta, Obama está estudando a possibilidade de reduzir as atividades diplomáticas na região.
O governo egípcio, maior preocupação da Casa Branca(na semana passada Obama chegou a dizer que não considera o presidente islamista Mohamed Mursi um aliado) respondeu à pressão americana e, segundo declarações oficiais, tenta pôr fim aos protestos.
Mas as imagens de bandeiras americanas sendo rasgadas e queimadas, de flâmulas islâmicas sendo hasteadas e de embaixadas atacadas por multidões enfurecidas introduziram um elemento incontrolável na campanha em que Obama busca a reeleição, com a ações na área internacional como uma de suas principais bandeiras .
Michael Rubin, especialista em Oriente Médio do American Enterprise Institute, analisa assim a situação frente à campanha eleitoral pela presidência dos Estados Unidos: "Depois do sucesso de Obama ao matar Osama bin Laden, matar Muamar Kadafi e pôr fim à Guerra do Iraque, acho que o presidente e seus auxiliares pensaram que a questão da política externa estava bem resolvida, eleitoralmente falando. Agora, isso se desmancha no ar, e em vez de Obama ser o cara que pegou bin Laden, passamos a falar dele como uma reencarnação de Jimmy Carter (que não conseguiu controlar a crise da tomada de reféns na embaixada americana no Irã e acabou perdendo a reeleição). E isso é algo que a campanha não deseja".
O governo americano teme que a violência no Egito, na Tunísia e de forma mais violenta na Líbia, com um ataque a embaixada que resultou na morte de quatro diplomatas, inclusive o embaixador Chris Stevens,, se alastre para outros paísese continue por algum tempo, porque, a cada novo protesto, mais pessoas tomam conhecimento do filme ante Islã produzido nos EUA e que detonou a onda de revolta.
Funcionários da Casa Branca estudaram a dinâmica de surtos anteriores de violência, como o que se seguiu à publicação, na imprensa dinamarquesa, de uma charge ofensiva do profeta Maomé ou a queima de exemplares do Alcorão pelo pastor radical americano Terry Jones.
Outro analista, Richard Haass, presidente do CouncilonForeignRelations, destaca: "O fato é que o Oriente Médio continuará turbulento e colocará os EUA diante de escolhas difíceis. Será uma situação frustrante, porque na maioria dos casos, nossos interesses serão maiores do que nossa capacidade de influência" -
Durante longas reuniões na Casa Branca desde a morte do embaixador americano e outros três funcionários do país em Benghazi, na Líbia, o governo tem tentado antever os desdobramentos da crise e preparar uma resposta à altura. Mas ele voltou a ser pego de surpresa quando uma escola americana foi atacada na Tunísia, logo a seguir.
Apesar da reação inicial de mandar mais fuzileiros navais para proteger as missões diplomáticas, o governo está rediscutindo a natureza da presença americana no mundo islâmico.
Com as embaixadas fortificadas na esteira do 11 de Setembro, há a dúvida se elas podem se tornar mais seguras do que já são ou se o caminho é reduzir algumas atividades, como programas de assistência e relações públicas que deixam os diplomatas mais expostos a risco.
É uma escolha difícil, pois reduzir o envolvimento americano nesses países reduziria a habilidade de construir pontes culturais que, na teoria poderiam ajudar a diminuir a hostilidade exposta nos protestos. Mas os funcionários americanos consideram que continuar como se nada tivesse acontecido é impossível. E preveem dificuldades para conseguir autorização no Congresso para novos gastos em assistência a outros países.
As dificuldades de relacionamento dos Estados Unidona região, começaram junto com os protestos que derrubaram o regime vigente na Tunísia, dando início ao ciclo que que foi denominado "Primavera Árabe" e que se consolidou no surgimento ou renovação das repúblicas islâmicas, que constituem seu corpo instituicional de maneira compatível com os preceitos do Islã.
Na prática, cada um dos países que adota o republicanismo islâmico tem sua maneira própria de aplicar os preceitos islâmicos às instituições republicanas. Entre os países no mundo que adotam o regime incluem as repúblicas islâmicas do Irã, Paquistão, Afeganistão, Mauritânia e Líbia.
Desde a Revolução Iraniana, a criação de repúblicas islâmicas é uma das aspirações políticas de grupos militantes religiosos radicais, nas nações com grandes populações de muçulmanos.
Teoricamente, para diversos líderes religiosos, a república islâmica é um Estado submetido a uma forma de governoteocrática. Representaria um meio termo entre um califado puramente islâmico e um nacionalismorepublicano secular. Algumas repúblicas islâmicas exigem, inclusive, que o código penal passe a ser compatível com as leis da Xariá, nome que se dá ao código de leis do islamismo.
Em várias sociedades islâmicas, ao contrário da maioria das sociedades ocidentais dos nossos tempos, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos, deixando de ser uma monarquia (como muitos dos Estados do Oriente Médio ainda são atualmente).
Já em outros casos a república islâmica representa apenas um símbolo de identidade cultural, como foi o caso quando o Paquistão adotou o título, em sua constituição de 1956.
Mas, apesar dos percalços, membros do governo insistem que a gestão de Obama melhorou a posição americana no mundo muçulmano. "Conseguimos um progresso significativo na tentativa de demonstrar que os EUA não estão em guerra contra o Islã, mas em isolar a al-Qaeda. Mas é claro que ainda há desafios persistentes em parte do mundo árabe, que estão germinando há muito tempo" - diz Benjamin J. Rhodes, conselheiro do presidente em temas de segurança nacional.
Além da espontânea fúria de muçulmanos que se sentiram ofendidos com o filme contra o profeta Maomé, os EUA ainda enfrentam o incentivo de movimentos radicais islâmicos a ações violentas contra as missões diplomáticas americanas. Em Beirute, o líder da facção libanesa Hezbollah, Hassan Nasrallah, convocou seus partidários a protestar contra o filme.
Na Líbia, o presidente da Assembleia Nacional, Mohammed Magarief, afirmou que há indícios de que militantes estrangeiros ligados ao grupo terrorista al-Qaeda tenham sido responsáveis pela morte do embaixador Christopher Stevens.
No Irã, onde a liderança dos aiatolás, desde Komeini, se consolidou de forma irreversível, os Estados Unidos são chamados de "O grande Satã". Segundo as agências Estado e Associated Press, a violenta disputa política transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político.
O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura MahmoudAhmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.
Na República Islâmica do Irã (denominação oficial do país desde 1979), o voto direto dos cidadãos permite a eleição do presidente, os membros do poder legislativo e a Assembléia de Anciões, ainda que os candidatos precisem obter uma aprovação especial por parte do clero. Embora seja definida comumente como uma teocracia, alguns estudiosos já classificaram o regime iraniano com os termos "eclesiocracia" ou "hierocracia", que foram utilizados por Max Weber em sua análise da sociologia da dominação, para se referir à ordem política onde o poder é exercido institucionalmente por uma castasacerdotal.