Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
As relações entre os Estados Unidos e a Rússia, que haviam melhorado no início do mandato de Barack Obama, vêm se deteriorando desde o retorno de Vladimir Putin ao poder, lembrando os tempos da Guerra Fria. O principal foco das disputas envolvendo as duas potências nucleares é a Síria.
Os dois países assumiram posições antagônicas sobre a guerra civil naquele país, com os EUA afirmando que se trata de um regime ditatorial que vem massacrando manifestantes a favor da democracia. Já a Rússia diz que, na verdade, o regime de Assad, apoiado por alauítas, cristãos e sunitas seculares, se defende de milícias radicais sunitas armadas por nações do Golfo.
Mas analistas internacionais são unânimes em afirmar que, apesar das versões oficiais, as duas potências nucleares sabem que o cenário é bem mais complexo. Até agora os dois lados, mesmo divergindo, vinham mantendo uma espécie de cooperação nos últimos meses ao defenderem a implementação do plano de Kofi Annan para a resolução da crise. Com o fracasso das tentativas tudo se deteriorou, "levando Moscou e Washington a decidir lavar a roupa suja em público".
Para agravar a crise, os EUA, em declarações da Secretária de Estado, Hillary Clinton, acusaram a Rússia de enviar helicópteros de ataque para as forças de segurança de Bashar al Assad.
Na verdade, a chefe da diplomacia americana deu uma informação incompleta, já que os aparelhos eram sírios e, conforme previa contrato, passaram por uma revisão em Moscou. Mesmo uma venda não seria ilegal porque a Síria não é alvo de embargo de armas imposto pelo Conselho de Segurança da ONU.
Mas na comunidade internacional, moralmente a imagem russa pode ficar arranhada ao armar um regime acusado de massacres. Por isso, em contrapartida o chanceler russo Sergei Lavrov acusou o governo americano de estar armando outros países do Golfo, que também reprimem a oposição, em clara alusão a Bahrain. O Departamento de Estado se defende dizendo que os armamentos vendidos não são usados para reprimir os protestos.
Independente do que seja verdade nestas declarações, o certo é que ficará cada vez mais difícil um acordo entre russos e americanos para tentar solucionar a crise síria. Se é que este conflito, agora classificado como guerra civil, tenha solução, principalmente com a contraofensiva militar da Turquia, depois que mísseis sírios caíram em cidades fronteiriças de seu território. Os analistas lembram também que os Estados Unidos mantém importantes bases aéreas e forças acantonadas em território turco, o que poderá agravar ainda mais o quadro. Sem falar na possibilidade de um envolvimento direto da OTAN.