Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
A passagem do furacão Sandy na Costa Oeste americana, seguindo uma trajetória inédita, depois de matar 66 pessoas no Caribe na semana passada e transformar Nova Iorque em uma cidade destroçada, gerando um prejuízo de cerca de 50 bilhões de dólares para a economia americana, traz de volta a discussão sobre a mudança do clima no planeta.
As previsões divulgadas fartamente pela mídia e atribuídas a cientistas famosos, são muitas vezes acusadas de "peças de manipulação", pelas supostas ligações que esses cientistas assumiriam (ou ocultariam) na defesa de interesses de grandes corporações. Por isso, segundo uma fonte da União Europeia, só as análises feitas por organismos internacionais, como o PNUMA, órgão da ONU que trata do meio ambiente ou os resultados de análises enviadas pela Estação Espacial, que está sendo construída por um consórcio que congrega 66 países, tem uma credibilidade maior.
As grandes ONGs ambientais também são alvos de permanentes críticas, pelo fato de seus orçamentos milionários nem sempre terem sua procedência divulgada, como acontece com a "Green Peace", que opera com navios, lanchas de ataque e helicópteros, o que gera um custo operacional altíssimo.
Por outro lado, tentativas de alerta e instituição de políticas de contenção do efeito estufa nas grandes reuniões internacionais, como a Eco-92, a Rio Mais 20 ou a que gerouo Protocolo de Kioto, nunca provocaram resultados concretos. Segundo a Agência FP, apesar da crise financeira ter dado uma leve freada nas emissões dos gazes nocivos ao clima, pelas quedas da produção, EUA, Austrália e China simplesmente não deram a mínima importância ao fato e nem foram signatários do tratado, como denunciou em um artigo publicado, a revista "NatureClimateChange".
Nem mesmo o ex-vice-presidente americano Al Gore, que correu o mundo "vendendo" um documentário intitulado "InconvenientTruth" (Uma Verdade Inconveniente), escapou das acusações de manipulação das análises com fins políticos, apesar de ter ganhado um Oscar com o filme.
Segundo um relatório divulgado pelo PNUMA, "durante milhares de anos, o clima mudou o comportamento humano, mas hoje os homens estão alterando o comportamento do clima". Registros longos mostram que embora as temperaturas variem naturalmente entre as eras glaciais e os períodos mais quentes, não há precedente de um aumento tão rápido na temperatura como tem acontecido nos últimos cem anos.
Por isso estão sendo criadas alternativas preparando o mundo para mudanças no clima. Da verificação de que a ação humana está alterando o equilíbrio da Terra a possíveis medidas de adaptação às mudanças climáticas, a ciência ocupa um papel central nas discussões sobre o meio ambiente.
Enquanto estudos sobre o passado do planeta e sua atual situação servem de base para modelos de previsão do que o aquecimento global pode provocar no clima, nos laboratórios um exército de cientistas busca alternativas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e gerar energia de forma mais limpa e sustentável.
A finalidade maior é saber como a Humanidade poderá enfrentar os inevitáveis desastres que estão por vir com o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos como furacões, tempestades e secas nas áreas mais inusitadas, como foi o caso do "Sandy" em Nova Iorque.
Outro artigo publicado na "NatureClimateChange" diz que o aquecimento ao longo dos próximos cem anos vai provavelmente ser maior do que qualquer mudança de temperatura dos últimos 10 mil anos, ou seja, desde o início da civilização. Também é previsto que o nível de dióxido de carbono vai continuar aumentando até o ano 2100 e que a temperatura global vai subir ainda mais.
Não está claro como o aquecimento global vai mudar outros aspectos do clima. De um modo geral, o regime de chuvas deve aumentar e, assim, a evaporação também aumentará, tornando os solos mais secos. Os estados do sul do Brasil provavelmente se tornarão mais úmidos, com o estado do Rio Grande do Sul, onde, possivelmente, haverá um aumento de 5 a 20% nas precipitações. Ao contrário, a Amazônia pode se tornar mais seca, particularmente nos meses de março até maio, quando diminuição de chuvas de 5 a 20 % são previstas.
Estas previsões são baseadas no pressuposto de que as mudanças vão ocorrer gradativamente. No entanto, existem preocupações com a possibilidade de mudanças repentinas e drásticas possam vir a ocorrer de forma mais rápida e nem sempre previsíveis, como aconteceram no passado, por causa de mudanças inesperadas nas correntes oceânicas, da liberação de gelo e de gás durante o derretimento dos solos congelados, ou de fendas no fundo do mar, como aconteceu no Golfo do México, ou ainda de um colapso da cobertura na Antártida Ocidental.