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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

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AMÉRICA LATINA FORA DOS PLANOS DE OBAMA
   
Os especialistas em América Latina, que analisaram a reeleição do presidente Barak Obama, foram unânimes em afirmar que a região não é prioridade na sua nova agenda. Quem escapa é apenas o Brasil. Segundo Jason Reed da Agência Reuters,"novas iniciativas não estão sendo criadas em relação à América Latina". Um destes analistas, em entrevista à RFI (Rádio França Internacional), afirmou que a América Latina deve continuar de fora das preocupações da política externa americana no segundo mandato do presidente democrata.

Para o cientista político Luís Bitencourt, da NationalDefenseUniversity nos Estados Unidos, especialista na relação do país com a América Latina, "por causa de uma certa tradição nos últimos 50 anos na Casa Branca, a preocupação maior foi com áreas de grande interesse econômico ou energético ou regiões onde a agenda de defesa é a dominante". E Bitencourt prosseguiu: "A América Latina, com exceção do México que vem ocupando um espaço mais importante depois da criação da Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), não tem uma posição de grande relevo". Em sua análise Bitencourt lembrou que mesmo preocupados com o voto do eleitorado latino, que representa 10% da população, a crise da Síria, Irã e o Oriente Médio roubaram a cena e a América Latina, majoritariamente governada pela esquerda, acabou ficando de fora das plataformas de governo dos principais candidatos à presidência. E concluiu: "A preocupação com o terrorismo vai ainda por muito tempo dominar a agenda externa americana",.

Paradoxalmente, na região, o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, logo após anunciada o resultado das eleições foi o primeiro mandatário a se pronunciar publicamente a favor de Obama. O governo brasileiro felicitou a reeleição do democrata e reforçou a importância das cooperações bilaterais no combate à corrupção.

Para Tom Trebat, representante da Universidade americana de Columbia no Rio de Janeiro, "a América Latina sai beneficiada dessas eleições graças à aposta no desenvolvimento econômico interno americano e na iniciativa privada, mesmo sem o crescimento direto da cooperação". E ele explicou: "Cuba está em uma transição inevitável, que vai ser facilitada por um segundo mandato de Obama, enquanto que o México. com um novo presidente, terá uma oportunidade para analisar com os Estados Unidos a agenda bilateral, que se resume aos temas de imigração e tráfico de drogas. Novas iniciativas não estão sendo criadas em relação à América Latina, mas esses países também não estão pedindo grandes medidas diplomáticas, estão em outra fase do seu desenvolvimento. Estão achando seus próprios caminhos". No Brasil o ministro Guido Mantega disse que a reeleição de Obama é positiva ao Brasil e o G20, um grupo formado pelos ministros de finanças e presidentes dosbancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia.

Para o professor Geraldo Zahran, coordenador do Observatório Político dos Estados Unidos (Opeu), "a relação entre os dois países vai além do diálogo entre os dois governos. A vantagem está no fato do Brasil já ter estabelecido um diálogo maduro e cordial com o atual governo americano. A relação Brasil-EUA está se adensando cada vez mais, não só no nível do governo, mas entre as empresas, organizações da sociedade civil, cidadãos, turistas indo para os dois lados".

Mesma opinião tem Paulo Pereira, coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, quando afirma: "O Brasil já conhece Obama e tem uma relação cordial com seu governo. Existe um patamar mínimo para o avanço em parcerias como, por exemplo, na questão dos biocombustíveis como o etanol. Podemos, talvez, estabelecer um intercâmbio comercial mais volumoso".

De acordo com uma fonte do Itamaraty ouvida pela BBC Brasil, o primeiro mandato de Obama foi um período positivo para as relações bilaterais também por ter preservado e ampliado os mecanismos de cooperação criados a partir do governo de George W. Bush. Hoje os dois países têm 25 áreas de cooperação e diálogo estabelecidas. "O que aconteceu de muito importante durante o governo Obama foi o reconhecimento do Brasil como um parceiro global", disse a mesma fonte, acrescentando: "Um diferencial hoje na relação EUA-Brasil é a confiança mútua. Existem muitas diferenças, mas hoje se lida com elas de uma forma madura." Para alguns diplomatas, com a reeleição de Obama o Brasil pode inclusive, melhorar a relação em algumas áreas e equilibrar a balança comercial. Hoje, o Brasil importa mais dos EUA do que exporta, comprando US$ 24 bilhões ao ano e vendendo US$ 20,6 bilhões. No comércio, o principal ponto de conflito que permanece é na disputa sobre o algodão. O Brasil aguarda a renovação da Farm Bill americana (a lei que regulamenta os subsídios agrícolas) para ver se os EUA reduzirão os subsídios, conforme prometido. Os analistas lembram que os dois países têm tido trocas constantes na área acadêmica, com o programa Ciência Sem Fronteiras, e na questão dos vistos de entrada e saída. A emissão de vistos para brasileiros foi facilitada e agora se estuda a isenção da exigência para turistas nos dois países, medida que ainda deve demorar um pouco para ser tomada.

Para o embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, em entrevista à BBC, "a relação entre Brasil e Estados Unidos será uma das mais importantes no século 21". Segundo ele, o fato dos dois países serem parecidos em diversos aspectos, como o tamanho continental, possuírem uma democracia consolidada e desfrutarem de relevância econômica, faz com que a atual parceria seja naturalmente ampliada. Os dois países também mostram claramente que a democracia e o sistema de economia de mercado produzem desenvolvimento e dá ao Estado a capacidade de enfrentar a pobreza, a desigualdade, a exclusão social. Acho que esse modelo brasileiro e o modelo americano oferecem muito para o mundo", concluiu o embaixador Shannon. .



   
 
 
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