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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
O PODER DA IRMANDADE MUÇULMANA
   
O risco de Ehsan Khaje Amiri Mosri, presidente do Egito, virar o "Chávez" dos árabes e transformar a sua Irmandade Muçulmana em um peronismo religioso é grande, depois do decreto que assinou para concentrar em suas mãos o direito de tomar qualquer decisão ou medida para proteger a revolução de 2011.

A análise é do comentarista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Segundo ele "o Egito pode não ser mais uma ditadura, como nos tempos de Hosni Mubarak. Mas tampouco é uma democracia consolidada. As eleições que levaram a Irmandade ao poder, não significam que o país seja democrático. Morsi não pode se espelhar apenas nas urnas, como Chávez, para justificar ações como as que tomaram chamando a si todo o poder.

Com o surgimento de um novo foco de tensão no Oriente Médio, na Faixa de Gaza presidente teve a e delicada missão de mediar e manter o equilíbrio entre a Irmandade Muçulmana, que o elegeu, Israel e o Hamas, em Gaza. Isso porque, grupos egípcios liderados pela Irmandade, protestam diariamente no Cairo contra os bombardeamentos israelitas nas vilas palestinas. São manifestantes que o colocam numa posição mais do que ambígua: entre a fidelidade ao Hamas, à política da boa vizinhança com Israel e às boas relações com Washington. Some-se a isso a nova crise institucional que põe em cheque a força da organização. A Irmandade tem hoje representantes em 70 países, que fazem questão de afirmar ter tido ação relevante na maioria dos conflitos pró-islâmicos, desde as guerras árabes, à guerra da independência argelina até os recentes conflitos no Afeganistão, na Caxemira e agora na Faixa de Gaza.

Conhecida como uma organização de posições políticas radicais, a Irmandade opõe-se frontalmente às tendências seculares de algumas nações islâmicas como a Turquia, Líbano, Egito e Marrocos e pretende retomar os ensinamentos do Corão, rejeitando qualquer tipo de influência ocidental. Também rejeita as influências Sufi e o chamado "islamismo moderado". O lema da organização é: "Deus é o único objetivo. Maomé o único líder. O Corão a única Lei. A jihad é o único caminho. Morrer pela jihad de Deus é a nossa única esperança".

Segundo o jornalista Luis Manuel Cabral, da Agência Lusa, a Irmandade Muçulmana tem suas raízes no Nazismo. Ele baseia sua informação no livro "Aliança-Sagrada" (Unholy Alliance), do historiador Peter Levenda, que conta a trajetória do oficial das SS Otto Skorzeny, famoso entre outras façanhas, por ter liderado o grupo de comandos que libertou o ditador Benito Mussolini do hotel em que estava detido depois do golpe que o retirou do poder, em 1934. Otto, que se refugiou no Egito após o fim da guerra, criou uma "Gestapo" egípcia formada quase completamente por antigos oficiais das SS. De acordo com o autor, esta foi uma medida que recebeu forte apoio de Allen Dulles, então diretor da CIA, numa operação que envolveu a Irmandade Muçulmana, na época associada aos nazistas e que nos tempos mais recentes deu origem à al-Qaeda.

A ligação entre os muçulmanos radicais e os nazistas, segundo outro escritor, Jim Marrs, no seu livro "A Ascensão do Quarto Reich", começou com o fundador Hassan al-Wahhab, recrutando um grupo dedicado à reforma social e à moral islâmica. Wahhab era um devoto seguidor de Muhammad ibn Abd al-Wahhab, o líder do século XVIII que fundou a seita Wahhabi, que ensina que qualquer aditivo ou interpretação à lei islâmica posterior ao século X é falsa, devendo por isso ser erradicada de qualquer forma, nem que seja pela violência.

Apesar das prisões, deportações e execuções de muitos dos seus membros no passado, a Irmandade Muçulmana não foi destruída nem por Mubarak, nem antes por Nasser ou pelo rei Farouk que a viu nascer em 1928. Hoje, seus seguidores estão nas ruas, com mais força que nunca, na defesa da causa palestina.

Procedente de um partido historicamente próximo do Hamas e à frente de um país unido a Israel por um grande número de tratados de paz, Mursi tem pouca margem de manobra. Além de suscitar esperanças no Egito, a sua eleição em março deste ano devolveu o otimismo aos membros do Hamas em Gaza. Por isso há muitos analistas que consideram possível que a eleição de Mursi marque uma virada política substancial em relação aos territórios palestinos. O Hamas e a Irmandade Muçulmana têm um passado comum, e os egípcios sempre simpatizaram com a causa palestina.



   
 
 
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