Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Até 7 de dezembro as grandes enchentes e secas que têm afetado várias regiões no mundo e os fenômenos naturais, como maremotos, cada vez mais frequentes, estarão sendo discutidos por técnicos, especialistas e autoridades de quase 200 países na reunião de cúpula da ONU, realizada em Doha, capital do Catar. Durante os debates negociadores de todo o mundo querem chegar a um consenso sobre o que precisa ser efetivamente adotado para minimizar os efeitos provocados pelas fortes mudanças de temperatura do planeta.
Na abertura do encontro foi divulgado um documento elaborado pelo Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA), informando que o clima está mudando mais rápido do que a ONU esperava. Segundo o documento o nível do mar está subindo 60% mais rápido do que as projeções indicavam em 2007. Cientistas das Nações Unidas culpam o homem pelas alterações climáticas na Terra. Os mares subiram 3,2 mm ao ano, em média, segundo o estudo realizado por três especialistas em clima e publicado na revista britânica "Environmental Research Letters". A projeção anterior da ONU previa uma elevação de 2 mm.
O documento é referendado por uma projeção do supercomputator Cray YMP8/864, do Centro Meteorológico de Bracknell, em Londres, com capacidade de análise um milhão de vezes maior que a humana, e que, depois de analisar os dados atuais da situação do clima, pintou um quadro apocalíptico para depois da virada do milênio. O superaquecimento do globo irá realmente acontecer, com secas no sul da Europa e centro dos Estados Unidos, deslocamento das chuvas para os polos, com as calotas polares, desprendendo-se, descongelando-se e elevando o nível dos oceanos. Mas, apesar das especificações do supercomputador londrino, nem todos analistas concordam com esta visão. E as controvérsias se consolidam. Cientistas brasileiros como Ricardo Felicio, da Universidade de São Paulo, dizem que o aquecimento global é apenas uma teoria e que as geleiras não estão em um processo de derretimento fora do normal, como são divulgadas pelos governos.
Para a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao contrário, "acumulam-se as evidências de que a ação humana está mudando o clima da Terra em velocidade maior do que se pensava, acelerando a transformação de todos os ecossistemas. A análise é de Carlos Nobre, respeitado especialista em climatologia, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, o Painel de Mudanças Climáticas da ONU".
Segundo Nobre, as previsões estão sendo revistas para mostrar o pior. O mundo terá que tomar medidas enérgicas para conter o aquecimento global, cuja face mais visível é o derretimento crescente da cobertura degelo do Ártico, no Pólo Norte. "Isso é muito sério, e terá reflexos no clima de todo o planeta e em toda a biologia marinha", disse ele. "Antes, a previsão era de que isso poderia acontecer no ano 2100. Agora já se pensa em algo como 2030 a 2050".
Durante a conferência as delegações de várias partes do mundo tentarão definir novos compromissos, a fim de dar sequência a uma série de esforços que já vêm sendo feitos desde 1992. Os primeiros compromissos foram assumidos pelas nações signatárias do Protocolo de Quioto, que começou a valer a cinco anos, definindo metas obrigatórias, no caso de países desenvolvidos, ou voluntários, entre as nações em desenvolvimento.
Apesar de o tratado que define metas e limites de emissão de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos expirar no fim deste ano, as medidas ainda estão longe dos resultados esperados. As expectativas em relação ao evento recaem quase exclusivamente sobre esse ponto: o que cada economia está disposta a fazer, a partir de janeiro do ano que vem, para continuar os esforços pela redução das emissões de gases de efeito estufa.
Levantamentos de organismos internacionais têm mostrado que as ações ainda não foram suficientes para reduzir essas emissões nocivas ao planeta. Mostrou-se que a concentração de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), aumentou 20% desde 2000. Pesquisadores do Banco Mundial e da Organização Meteorológica Mundial também têm alertado que, caso não adote ações mais ambiciosas e austeras, a comunidade internacional não irá alcançar a meta estipulada como ideal pelos cientistas.
Diante da emergência apontada pelos estudos recentes, os países se comprometeram a adotar medidas para manter a elevação da temperatura do planeta abaixo dos dois graus centígrados. O desafio será chegar a um acordo imediato para manter metas que reposicionem os países nessa direção, adotando medidas rigorosas em suas economias. Em meio ao debate, será preciso definir, por exemplo, se os países do Leste Europeu podem usar, para maiores emissões, a margem que conquistaram por ter emitido menos, nos últimos anos, quando a recessão enfrentada por essas economias reduziu o ritmo das fábricas, mantendo os níveis de poluição atmosférica abaixo do estipulado.
Além disso, os negociadores devem retomar os debates sobre o Fundo Verde e a regulamentação internacional de uma compensação para países em desenvolvimento para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, conhecido como Redd, sigla que define a Redução das Emissões Geradas com Desmatamento e Degradação Florestal nos Países em Desenvolvimento. O mecanismo tem dividido as atenções nos debates sobre clima.
A possibilidade de um agravamento da situação climática é assunto frequente nos jornais e na televisão, mas muito pouco se sabe sobre ela. E seria prematuro afirmar que já estaria começando. Primeiro, porque não é claro se está sendo causada por problemas bem conhecidos como as emissão de gases tóxicos pela indústria, o desnudamento do solo após o corte das matas, a redução das próprias matas, o endurecimento do solo devido ao plantio exagerado, além de muitas outras práticas perniciosas da civilização.