Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
No seu discurso durante o Congresso Foresight sobre Nanotecnologia Molecular em 1995, o almirante David E. Jeremiah, ex-Vice-Presidente e Mando Militar dos Estados Unidos, afirmou: "As aplicações militares da fabricação molecular têm um potencial ainda maior do que as armas nucleares para mudar de forma radical o equilíbrio de poder." Foi uma afirmação profética. Hoje, com a utilização da fabricação molecular programada, ou nanotecnologia, as possibilidades de uma escalada bélica são imprevisíveis. Isto porque esta manipulação molecular abre a possibilidade de produzir armas terrivelmente eficazes. Por exemplo, o menor inseto do mundo mede aproximadamente 200 mícrons (1 mícron = 0,001 milímetro). A nanotecnologia poderia, pelo menos na teoria, desenvolver uma arma de um tamanho semelhante, capaz de detectar e injetar toxinas em pessoas indefesas. Uma dose de 100 nanogramos da toxina do botulismo , ou seja, 1/100 do volume da arma, seria letal. Numa única mala haveria espaço para 50 milhões de aparelhos com essa quantidade de veneno, suficiente para matar a humanidade inteira.
A primeira vez que o conceito de nanotecnologia foi usado, foi por um físico chamado Richard Feynman que abordou, em dezembro de 1959 um breve conceito desta tecnologia, destacando o poder de manipulação de átomos e moléculas, algo que resultaria em componentes tão pequenos, que o homem nem poderia enxergar.O termo nanotecnologia foi criado e definido pela Universidade Científica de Tóquio, no ano de 1974. Em 2000, a nanotecnologia começou a ser desenvolvida em laboratórios, aumentando as pesquisas nessa linha tecnológica.
Concretamente, a nanotecnologia (algumas vezes chamada de Nanotech) é o estudo de manipulação da matéria numa escala atômica e molecular. Geralmente lida com estruturas com medidas entre 1 a 100 nanômetros em ao menos uma dimensão. Incluí o desenvolvimento de materiais ou componentes e está associada a diversas áreas de pesquisa e produção na escala nano. O princípio básico da nanotecnologia é a construção de estruturas e novos tipos de materiais a partir dos átomos (os tijolos básicos da natureza). É uma área promissora, mas que dá apenas seus primeiros passos, mostrando, contudo, resultados surpreendentes . Criada no Japão, a nanotecnologia busca inovar invenções, aprimorando-as e proporcionando uma melhor vida ao homem.
Existe muito debate nas implicações futuras da nanotecnologia, pois os desafios são semelhantes aos de desenvolvimentos de novas tecnologias, incluindo questões sobre impactos ambientais dos nanomateriais e os efeitos potenciais na economia global, assim como a especulação sobre cenários apocalípticos, (doomsdayscenarios). Essas questões levaram ao debate entre grupos e governos a respeito de uma regulamentação da matéria.
Um trabalho realizado por Tom McCarthy (membro da equipe do site CRN) estuda em maior detalhe estas questões. Aponta as possíveis maneiras como a nanotecnologia molecular poderia desequilibrar as relações internacionais, reduzindo a influência e a interdependência econômica, potenciando a capacidade de atacar objetivos específicos como pessoas, ao invés de fábricas ou armas, e reduzindo a capacidade de um país em vigiar os seus inimigos potenciais. Também poderia dar capacidade de destruição global a muitos países e eliminar a possibilidade de que os países mais poderosos controlassem o cenário mundial. Por outro lado, formar pequenos grupos autossuficientes poderia aumentar o risco de desmembramento das nações existentes.
Dentro desse exercício de futurologia, os físicos dizem que, com a nanotecnologia, seria possível aumentar a potencia de todo o tipo de armas de fogo com a geração de balas autodirigidas. Os materiais de aviação seriam mais ligeiros e teriam um melhor rendimento. Além disso, esses materiais, fabricados com uma mínima quantidade de metal (ou sem ele) seriam muito mais difíceis de detectar com um radar. Qualquer arma poderia ser ativada por controlo remoto através de computadores integrados e a robótica melhoraria graças a sistemas mais compactos. Estas ideias são apenas a ponta do icebergue.
Segundo uma das questões que se colocam, é se a existência de armas nanotecnológicas contribuiria para a estabilização ou para a desestabilização da situação internacional. Segundo algumas teorias, desde a sua invenção, as armas nucleares impediram grandes guerras.
Mas analistas internacionais dizem que as armas desenvolvidas mediante nanotecnologia não têm nada a ver com as armas nucleares. A estabilidade nuclear depende de um mínimo de quatro fatores. O mais evidente é a capacidade de destruição maciça de uma guerra nuclear. Uma guerra nanotecnológica teria um efeito semelhante a curto prazo, mas o que faz a diferença é o fato de as armas nucleares terem graves consequências também depois de um eventual ataque (contaminação nuclear). Com as nano-armas, porém, esses danos seriam muito mais reduzidos.
As armas nucleares causam uma destruição maciça de forma indiscriminada. As nano-armas, no entanto, poderiam ser dirigidas a um objetivo concreto. As armas nucleares requerem um enorme esforço de pesquisa e desenvolvimento industrial, muito mais fáceis de detectar que no caso da produção de nanoarmas. A nanotecnologia permitiria a fabricação mais rápida de armas e protótipos. Por último, as armas nucleares são difíceis de transportar antes da sua utilização. As nano-armas, pelo contrario, não teriam esse problema.
Maior incerteza no que diz respeito as capacidades do adversário ; menos tempo de resposta perante um ataque ; melhor capacidade para atingir os recursos do adversário. Além disso, sem um controlo eficaz, poderia haver um número muito maior países com capacidade para desenvolver a nanotecnologia que aqueles com capacidade nuclear, um fato que pode desencadear conflitos regionais.