Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
O Papa atual não foi o único Bento a renunciar.
O primeiro papa a abdicarfoi Ponciano, chefe da Igreja entre os anos 230 e 235. A informação publicada é creditada à "Enciclopédia Católica", segundo a qual, "diferente de seus predecessores, Ponciano não foi martirizado, mas sentenciado a trabalhos forçados nas minas da Sardenha pelo Imperador Maximiano Trácio, que estava perseguindo os cristãos, particularmente os chefes da igreja." O papa abdicou voluntariamente para evitar que a igreja experimentasse um vácuo no poder.
Durante uma época tumultuada da história da Igreja Católica conhecida como saeculumobscurum ("idade das trevas"), de acordo com a mesma fonte, "alguns dos papas se entregaram à corrupção, à venalidade ou foram aliados de alguma família aristocrática. Cansado disso, o povo de Roma resolveu elevar Bento V à mais alta posição em 964. Mas o fundador do Sacro Império Romano, Rei Oto I, não quis saber disso e elegeu um antipapa, Leão VIII. Bento V escolheu renunciar alguns meses depois da eleição (nestes tempos caóticos, não era incomum haverem dois papas eleitos)".
O Papa Bento VI, também viu seu reinado ter um fim, segundo a Enciclopédia, "ignominioso, quando o Rei Otto morreu em 974. O Pontífice foi preso e executado pelo seu "antipapa"sucessor". Um Antipapa é definido pelos vaticanistas como "uma pessoa que reclama o título de Papa, em oposição a um Papa legitimamente eleito, ou durante algum período no qual o título estava vago. O antipapa não é necessariamente sinal de doutrina contrária à fé ensinada pela Igreja. No passado, antipapas eram geralmente apoiados por uma facção significativa de cardeais e reinos".
Outro papa Bento, Bento IX, foi papa três vezes. Primeiro ascendeu ao papado em 1032, como resultado de conexões familiares, com a tenra idade de 20 anos. De acordo com a Enciclopédia Católica, entretanto, ele levou "uma vida imoral e dissoluta, o que, em 1044, levou a cidade de Roma eleger um antipapa".
Bento IX conseguiu substituir o antipapa, mas abdicou - depois de vender o papado a outro sacerdote. Antes de morrer, ele se tornou papa mais uma vez, mas por pouco tempo.
Ao longo dos séculos a Igreja Católica passou por vários períodos de turbulência, principalmente na Idade Média, quando deu suporte aos diversos impérios, colocando os interesses materiais acima dos espirituais. O primeiro chefe da Igreja foi São Pedro, cujo nome original era Simão e foi um dos 12 apóstolos de Jesus, de acordo com Julius Norwich em seu livro "AbsoluteMonarchs: A HistoryofthePapacy" ("Monarcas Absolutos: Uma História do Papado"). Segundo vários teólogos, Pedro talvez tenha sido o único dos evangelistas que realmente conheceu e conviveu com Jesus, em Carfanaum, uma cidade bíblica que ficava na margem norte do Mar da Galileia, próxima de Betsaida, sua terra natal. Os demais teriam escrito os evangelhos entre 70 a 100 anos após a data fixada como a morte de Cristo, baseados em depoimentos que sobreviveram pela tradição oral.
Pedro começou o apostolado pregando na Ásia Menor antes de ir para Roma, onde viveu 25 anos, quando o Imperador Nero Augusto César crucificou-o. Diz a lenda que ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por se achar indigno de morrer como Jesus. Apesar de ser considerado o primeiro Papa, ele nunca teve este título durante sua vida.
De acordo com o livro "AbsoluteMonarchs", os primeiros anos do Cristianismo foram tempos duros, com perseguição de cristãos e martírio de vários líderes da Igreja. Mas, em 313, o Imperador Constantino colocou oficialmente um fim à perseguição. O Papa Silvestre I foi o primeiro a viver neste mundo menos perigoso. Mas quando o Imperador Constantino organizou o Concílio de Nicéia, para definir a doutrina oficial cristã, o Papa Silvestre, por razões políticas, resolveu ficar de fora, enviando emissários. O Credo Niceno, que deu suporte às mudanças do Império Romano, após ter decretado o Catolicismo como religião oficial, é considerado a primeira declaração oficial de fé dos cristãos.
OPapa Leão I, que reinou do 461 a 468, pode ter sido mais famoso pelo trabalho que fazia antes de ascender ao papado: o antigo aristocrata e então bispo convenceu o temido Átila, o Huno, a não saquear Roma. É possível que Leão tenha oferecido a Átila alguma quantia em ouro, ou então o guerreiro usou o encontro como uma desculpa para retornar, atendendo a seus próprios objetivos estratégicos. Outra possibilidade é que o papa tenha apelado para os medos supersticiosos de Átila, de morrer logo depois do saque, como aconteceu com Alarico I (rei de uma tribo de Godos) depois de saquear Roma décadas antes, de acordo com o livro "AbsoluteMonarchs".
O Direito Canônico reza que qualquer católico pode ser eleito Papa, desde que preencha os requisitos sacramentais exigidos, como o batismo e a crisma. Assim, muitos dos católicos que foram escolhidos para o papado não tiveram a chance ter um pontificado duradouro. O Papa Stephen foi eleito em 752, mas morreu alguns dias depois sem ter sido consagrado. O Papa Dâmaso II ascendeu ao papado em 1048, depois de várias lutas políticas, mas faleceu 23 dias depois. Celestino IV, que foi eleito em 1241, faleceu 16 dias depois, muito cedo para sua coroação. E o Papa Urbano VII, que morreu depois de 12 dias no ano 1590, foi o papa de mais curto reinado da história da Igreja Católica.
A igreja também teve vários períodos sem papa reinando. Estes períodos, conhecidos como "interregnums", normalmente acontecem quando os cardeais que votam para escolher um novo papa estão no Conclave. O último papa a abdicar, Gregório XII, foi eleito em 1406, há mais de 600 anos. Ele era conhecido por sua piedade, e foi escolhido originalmente para terminar o cisma ocorrida depois que o Papa Inocêncio VII morreu, de acordo com a Enciclopédia Católica. Gregório XII foi um dos três papas a reinar na época, e o caos que se seguiu deve tê-lo convencido que era hora de deixar o Pontificado. Ele convocou um concílio para resolver o problema e abdicou em 1415.
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