Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
O que motiva a corrida armamentista da Coreia do Norte?
Esta pergunta vem sendo feita hoje pelos principais líderes mundiais. Segundo observadores internacionais o ditador Kim Jong-um tem um medo obsessivo de terminar como Muamar Kadafi. Mas uma das respostas mais convincentes é dada por John Swenson-Wright, especialista em Ásia do centro de estudos britânico Chatham House, em pesquisa encomendada pela BBC.
Para o analista, a principal causa é um grande temor do ditador norte-coreano Kim Jong-un de ser apeado do poder por seus adversários, especialmente a Coréia do Sul e os Estados Unidos. E ele explica: "Há cinco décadas, a Coréia do Norte tem se esforçado para se tornar um Estado nuclear para se defender de seus adversários, em especial dos Estados Unidos, com o qual Pyongyang permanece em estado de guerra desde os anos 1950. Mais recentemente, o caso do líbio Muammar Kadhafi, que concordou em abandonar seu incipiente programa nuclear e terminou derrubado por uma oposição local apoiada por Washington e a comunidade internacional, serviu de alerta para os líderes norte-coreanos".
Para os analistas ocidentais a aprovação da Resolução 2087 do Conselho de Segurança da ONU, que impôs sanções sobre a Coreia do Norte, pelo lançamento de um foguete em dezembro passado, irritou líderes do país e foi vista como uma afronta à sua soberania.
E Swenson-Wright acrescenta que desde a morte de Kim Jong-il, em 2011, o novo líder norte-coreano Kim Jong-un, de apenas 29 anos, vinha se esforçando para consolidar e dar legitimidade a sua autoridade, assumindo posições de destaque na hierarquia do Estado, do partido e das Forças Armadas. Nesse contexto, avanços nos programas de lançamento de foguetes e de armas nucleares podem ser vistos como uma demonstração de força não só do Estado norte-coreano, mas também de seu novo líder. Meses depois de Kim-Jong-il assumir, a Coréia do Norte modificou sua Constituição definindo-se oficialmente como uma nação nuclear. Os esforços para melhorar os ativos nucleares do país também podem ser vistos como uma forma de dar equilíbrio ao jogo de forças dentro da hierarquia do Estado, impedindo uma proeminência dos quadros militares.
Diante das últimas ameaças, o mundo se pergunta: será que ele é louco e realmente perigoso? A resposta é de Marc Minton, um especialista em Coréia: " Kim-Jong-il não é louco. É muito racional. Com as ameaças quer forçar os Estados Unidos e os aliados a retomarem as negociações com a Coreia do Norte. Conseguir incentivos para a economia, comida e combustível para manter o regime completo. Assim, o ataque nuclear não passa de um blefe. Melhor imaginar Kim Jong-un como um menino gordinho e inofensivo dos filmes de animação".
Os americanos, entretanto, rejeitam a análise considerada simplista e acham que o ditador não está blefando com suas ameaças, o que já foi dito em diversas ocasiões pelo Secretário de Defesa, Jonh Kerry. Por isso, além dos 28 mil soldados que os EUA mantem acantonados na Coreia do Sul, está sendo montada, a partir da base americana de Guam, ameaçada pelos mísseis nucleares da Coréia do Norte, uma moderna barreira antimíssil que protegerá o Japão e outras bases do Pacífico. E uma frota de porta-aviões, navios e submarinos de última geração já se deslocaram para a península coreana. Na costa oeste, também sob ameaça de ataque, em uma das praias da Califórnia o sistema antimíssil também já está instalado. Além disso, o Japão, governado pelo conservador Shinzo Abe, está empenhado em aumentar seus gastos na área de defesa, o que é visto como mais uma ameaça regional pela Coreia do Norte.