Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Vários artigos de analistas internacionais de grandes jornais americanos, como o "Washington Post" e o "The New York Time" são de opinião que Barak Obama não quer reeditar a decisão de seu antecessor George Bush, no episódio da invasão do Iraque ao discordar das recomendações do Pentágono, do Departamento de Estado e da CIA para armar os rebeldes sírios e autorizar um ataque à Síria, em apoio aos insurgentes que lutam para derrubar o regime ditatorial sírio. Obama teme que as informações sobre o uso de armas químicas pelo militares fiéis a Bashar Al Assad não sejam verdadeiras, servindo apenas como um pretexto para uma intervenção americana no conflito.
Além disso, o presidente sabe dos riscos de colocar armas nas mãos de grupos pouco conhecidos, alguns ligados à Al Qaeda.
Em entrevista na revista "New Repúblic" Obama resumiu assim sua posição: "Em uma situação como a da Síria, eu tenho que perguntar, podemos fazer a diferença nessa situação? Será que uma intervenção militar tem um impacto? Como isso afetaria nossa capacidade de apoiar as tropas que ainda estão no Afeganistão? Qual seria o resultado do nosso envolvimento no chão? Poderia desencadear ainda pior violência ou o uso de armas químicas? O que oferece a melhor perspectiva de um regime pós-Assad estável? E como faço para pesar dezenas de milhares que foram mortos na Síria contra as dezenas de milhares de pessoas que estão sendo mortos no Congo? Essas não são perguntas simples".
Por isso estaria estudando com sua assessoria as recentes denúncias feitas pelo Mossad, o Serviço Secreto de Israel, de que as tropas governistas sírias estariam usando armas biológicas, o gás letal sarin, em redutos dos rebeldes, mas atingindo principalmente os civis, entre os quais, velhos, mulheres e crianças. Para constatar a veracidade das denúncias, serão necessárias entrevistas com sobreviventes dos supostos ataques e com outras testemunhas oculares, como socorristas e médicos que trataram as vítimas.
Para os inspetores da ONU será preciso fazer exames médicos das vítimas e obter amostras biomédicas - urina ou sangue, para buscar eventuais resíduos do agente químico ou de seus efeitos após o metabolismo do corpo, mesmo que tenha se passado algum tempo desde o incidente com armas químicas. E Obama estaria esperando o resultado destes exames.
Segundo o Mossad, numa análise em espectro mais amplo, caso Bashar al Assad seja deposto, existem dois riscos claros para os israelenses. Primeiro, o regime, prevendo a derrota, poderia transferir armamentos convencionais ou mesmo químicos para o Hezbollah, seu principal aliado na região. O grupo libanês, que já possui o mais poderoso esquema de guerrilha do mundo, passaria a ter a capacidade de realizar enormes estragos em Tel Aviv e Haifa, matando milhares de pessoas.
Em segundo lugar, com a derrota de Al Assad, a Síria entraria em um período conturbado, pois as facções opositoras travam batalhas como a já denominada pelos correspondentes "guerra civil dentro da guerra civil". Os grupos mais poderosos são ligados à Al Qaeda e odeiam tão ou mais Israel do que o Hezbollah Bachar Al Assad.
Por último, existe a possibilidade de Bashar Al Assad permanecer no poder, a exemplo do que já aconteceu com outros ditadores que enfrentaram levantes na região. Basta lembrar que os militares argelinos também enfrentaram uma revolta popular na década de 90 e, como o regime sírio, perderam por anos o controle de partes do país. Depois da morte de mais de 150 mil pessoas, sufocaram a revolta. O mesmo aconteceu com Sadam Hussein depois da Guerra Golfo, sendo deposto apenas doze anos mais tarde com a invasão americana.