Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Nos últimos dias um termo tem ocupado grande espaço na mídia internacional: jihadismo. Ele designa os "combatentes de Alá", partidários da jihad, a guerra santa dos mulçumanos contra os "infiéis", mais especificamente contra o Ocidente, com destaque especial para os Estados Unidos.
O Departamento de Defesa americano, reuniu uma equipe de investigação, liderada pelo antropólogo Scott Atran, professor da Universidade de Michigan e autor do livro Talking to the Enemy (Falando com o Inimigo), que tem analisado os processos mentais e sociais que levam algumas pessoas a se tornarem radicais. Segundo o especialista, os terroristas que agem em território ocidental hoje são parte da população comum, não necessariamente psicopatas ou sociopatas, nem mesmo gênios estrategistas. E ele acrescenta que geralmente são jovens em fase de transição, estudantes, imigrantes, desempregados, propensos a se identificar com movimentos que pregam o companheirismo e a promessa de aventura e glória. A maioria deles teve uma educação secular, inclinando-se à causa jihadista na adolescência ou até os 20 e poucos anos.
Segundo o antropólogo o ativismo radical islâmico contra populações civis em vários países do mundo ocidental, em especial nos Estados Unidos, mudou. Cada vez mais a internet se mostra capaz de radicalizar e treinar um jovem disposto à vingança e propenso à violência. Atran destaca que o ataque a Boston orquestrado pelos irmãos de origem chechena Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev, é mais uma prova de que o terrorismo moderno não precisa de um comando central, para recrutar partidários. E o antropólogo acrescenta: "Suas ações são imprevisíveis, passando muitas vezes despercebidas pelas agências de inteligência. Para os descontentes a jihad é vista como uma causa heroica, uma promessa de que qualquer pessoa de qualquer lugar pode deixar sua marca contra o país mais poderoso do mundo". O jihadismo surgiu na década de 1960 e foi consolidado pela invasão soviética do Afeganistão em 1979, orientado pela rede al-Qaeda e seu líder Osama Bin Laden, armado e treinado pelos Estados Unidos, através da CIA, para combater as tropas invasoras da então União Soviética.
Sobre o movimento, Danny Zahreddine, coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-Minas, destaca que a juventude é o momento em que qualquer ser humano busca sua identidade e fica ainda mais difícil encontrá-la quando suas raízes estão do outro lado do mundo, em uma região que vivenciou repetidos conflitos e ainda enfrenta disputas violentas. Com relação aos ataques de Boston, prossegue: "Os chechenos, mesmo aqueles que não deixaram a região do Cáucaso, vivem em uma condição de marginalidade, são perseguidos pelos russos como se precisassem ser eliminados. Por isso tantos buscam asilo ou refúgio em outros países. Nesse contexto, os EUA acabam sendo vistos por eles como uma oportunidade de crescer, mostrar sua competência. Porém, quando chegam lá, a realidade é outra: sofrem uma profunda xenofobia, especialmente os muçulmanos, desde o atentado de 11 de setembro de 2001, com a guerra ao terror iniciada por George W. Bush".
Para Edwin Bakker, da Universidade de Leiden, na Holanda e especialista em contraterrorismo, o atentado na Maratona de Boston foi essencialmente um ato de expressão pessoal, e a mensagem dos terroristas foi algo como "somos nós contra o mundo e os EUA". E Bakker acrescenta que as necessidades e desejos pessoais dos autores - em particular Tamerlan, que parecia menos integrado à sociedade americana do que Dzhokhar - vieram em primeiro lugar. Eles nem sequer se preocuparam em formular uma mensagem política (separatista da Chechênia) ou religiosa (islamismo radical). Se tiveram algum treinamento no exterior foi tão rudimentar quanto os explosivos usados no atentado. Pode ser que Tamerlan tenha tido contato com extremistas islâmicos ou separatistas chechenos, mas dificilmente é membro de uma rede.
Segundo os especialistas a radicalização on-line pode levar anos, meses ou apenas dias, dependendo da vulnerabilidade da pessoa e da influência de outros. Geralmente, aquele que se radicaliza tem um parente ou um amigo de amigo com alguma ligação com o exterior, alguém que possa lhe dar o mínimo de treinamento e motivação para carregar uma mala de explosivos ou puxar um gatilho. Mas as redes sociais e a internet de uma forma geral são suficientes para cooptar um jovem em crise e lhe oferecer informações operacionais, além de garantir o que mais impulsiona o terrorismo moderno: a publicidade.