Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Uma nova ameaça ronda a Zona do Euro: o primeiro-ministro britânico, David Cameron, promete um referendo para decidir se o Reino Unido continua ou não na União Europeia. E as primeiras pesquisas apontam para um rompimento com o bloco. Muitos observadores pensam que a estratégia de Cameron consiste em utilizar a ameaça de saída para forçar um quadro mais favorável ao Reino Unido.
Mas mesmo antes do início da crise, há cerca de quatro anos, a Inglaterra era um dos únicos países da região onde políticos respeitados defendiam o desatrelamento da libra ao euro. Somem-se a isto os resultados do último relatório da Comissão Europeia, que divulgou as previsões para os próximos dois anos sobre o futuro da economia da zona do euro, onde está dito que ela " se contrairá mais do que o esperado este ano e os déficits orçamentários cairão mais lentamente".
E existem outros fatores catalizadores do rompimento. Muitos analistas internacionais dizem que a permanência da Inglaterra na União Europeia é desejada pela França, para compensar o poder que a Alemanha vem tendo.
A chanceler alemã Angela Merkel, em recente debate com um grupo de estudantes de economia, disse que levará anos para que a zona do euro supere a atual crise da dívida, e acrescentou que isso ainda vai se arrastar por um longo período. Vai levar anos, não dias. Esse é o período necessário para que as reformas econômicas que estão sendo implementadas agora produzam resultados. Merkel reconheceu que a economia alemã não será capaz de se isolar da recessão no resto da Europa. "Se a Europa não está bem, a Alemanha também não está bem. A Alemanha pode evitar essa contracorrente talvez por dois anos, mas não no médio prazo.
Uma das melhores análises da atual situação econômica do continente foi feita por Luiz Queirós, presidente da Fundação Vox Populi. Segundo ele, por causa da crise, ou por outras causas mais profundas e menos perceptíveis, anteriores à crise, a Europa vive momentos conturbados e está numa encruzilhada.
E o analista explica: " Os Estados deram-se conta de que os déficits e a dívida estão corroendo suas economias e que é urgente tomar medidas. A União Europeia, que parecia uma sólida construção, mostra algumas brechas e ameaça desmoronar-se. O euro já não é a "cola" forte que se julgava ser para cimentar a UE". E Luiz Queirós prosseguiu: "Na Inglaterra e na Alemanha já não se extrai carvão das minas. na França 80% da energia elétrica é produzida em centrais nucleares. Mas a França não tem urânio, e tem de importar todo o que necessita para as fazer funcionar".
Quanto aos reflexos da crise na economia inglesa, conclui que o petróleo do mar do Norte (que muito contribuiu para superar a crise associada ao choque petrolífero de 1980) está num processo de lento, mas inexorável esgotamento, a tal ponto que a Inglaterra, de país exportador, passou a importador, desde 2006".