Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
A crise da Síria ainda pode se arrastar por tempo indeterminado, apesar da pressão internacional ter aumentado após relatórios de inteligência ocidentais apontarem o uso pelo regime de armas químicas em pelo menos duas oportunidades e o número de mortes ser estimado em aproximadamente 95.000, após 26 meses de guerra, segundo um grupo de observação da ONU. Somem-se a isso os ataques de Israel a centros militares em território sírio, que trouxeram um componente a mais de tensão em um ambiente já carregado de riscos.
Este futuro pode ser previsto depois que o presidente Bashar Al Assad, em entrevista ao jornal argentino "O Clarín", declarou que, mais que nunca, está firme no propósito de não deixar o poder nem aceitar qualquer solução partida de países ocidentais numa clara referência a ação conjunta dos Estados Unidos e da Rússia para convocar uma conferência de paz em Genebra, que reuniria membros do regime e rebeldes que lutam contra o regime, acrescentando: "Nós recebemos bem a acolhida russo-americana e esperamos que haja uma conferência internacional para ajudar os sírios a superarem a crise. No entanto, não acreditamos que muitos países ocidentais realmente queiram uma solução na Síria. E não pensamos que as forças que sustentam os terroristas queiram uma solução".
Destacou que há confusão no mundo sobre uma solução política e o terrorismo. "Eles pensam que uma conferência política deteria o terrorismo em campo. Isto é irreal".
Na entrevista, analisando as recentes declarações do secretário de Estado americano, John Kerry, que sugeriu que deixe o poder, afirmou não ter planos de renunciar. E acrescentou: "Renunciar seria fugir. Eu não sei se Kerry ou qualquer outro foi constituído de poder pelo povo sírio para falar em seu nome sobre quem deveria partir e quem deveria ficar. Isto será determinado pelo povo sírio nas eleições presidenciais de 2014".
Sobre suas expectativas com o futuro da crise, foi claro e direto: "As acusações contra a Síria a respeito do uso de armas químicas ou minha renúncia mudam todo dia. E é provável que isto seja usado como um prelúdio para uma guerra contra o nosso país".
Durante a entrevista questionou as estimativas sobre o número de mortos feitas por grupos humanitários e observadores da ONU. Mas reconheceu que milhares de sírios morreram na guerra civil. Acrescentou que não se deve ignorar que muitos dos mortos dos quais falam são estrangeiros que vieram matar o povo sírio. "A culpa é do terrorismo local e aquele vindo de fora".
Assad negou que seu governo esteja usando combatentes de fora da Síria ou de outras nacionalidades e que precise de apoio de qualquer país árabe ou estrangeiro. E concluiu: "Há gente do Hezbollah no Irã, na Síria, mas eles entram e saem da Síria muito tempo antes desta crise".