Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Um relatório divulgado pela ONU no Dia Mundial do Meio Ambiente traz dados alarmantes sobre a fome: mais de um bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano no mundo. O relatório informa que cerca de 963 milhões de pessoas não têm acesso a alimentos no planeta. E a situação vem se agravando de ano a ano. Outro estudo, publicado em 2008, já informava que, naquele ano o consumo anual de alimentos em todo o planeta era de 375 milhões de toneladas e que a maior parte deste total provenha das plantas.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alerta: "Isso é tudo uma afronta a quem tem fome, mas também representa um custo ambiental enorme em termos de energia, terra e água, aumentando gradativamente o problema do lixo." Sobre a pesquisa Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA, destaca que considerando que 10% destes alimentos são vegetais consumidos in natura e que outros 10% são de folhas e talos aproveitáveis na alimentação e que são jogados fora, tem-se um desperdício de quase 4 milhões de toneladas de comida.
Atualmente, pelo menos um terço de todos os alimentos produzidos não consegue sair das fazendas para as mesas. Por isto o secretário-geral criou a campanha "Pensar. Comer. Conservar - Diga Não ao Desperdício", lançada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e parceiros do setor público e privado. O objetivo é aumentar a conscientização global e mostrar soluções relevantes para os países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao desperdício de comida.
De acordo com outro relatório, "Reduzindo a perda e desperdício de comida", o mundo vai precisar de cerca de 60% mais calorias dos alimentos em 2050 em comparação a 201, se a demanda mundial continuar em seu ritmo atual. E Achim Steiner acrescentou: "É um fato preocupante que, no século 21, perto de 25% de todas as calorias associadas com o crescimento e produção de alimentos é perdida ou desperdiçada no trajeto entre o cultivo e a mesa de refeição - comida que poderia alimentar os famintos, comida que exigiu energia, água e solos em um mundo de crescente escassez de recursos naturais e de preocupações ambientais como as alterações climáticas".
As estimativas mundiais atuais indicam que:
1. Cerca de 20 mil pessoas morrem diariamente devido à fome ou a causas relacionadas com ela. Esse índice era de 35 mil em 1998, e de 41 mil em 1988.
2. 10% das crianças dos países em desenvolvimento morrem antes dos cinco anos. Há cinquenta anos, a porcentagem era de 28%.
3. A maior parte das mortes por fome é provocada pela desnutrição crônica. As famílias simplesmente não conseguem obter comida.
4. Além da morte, a desnutrição crônica também provoca a diminuição da visão, apatia, atrofia do crescimento e aumenta consideravelmente a susceptibilidade às doenças. Pessoas que sofrem de desnutrição grave ficam incapacitadas das funções mais básicas.
5. Segundo as estimativas, cerca de 963 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem de fome e subnutrição- algo em torno de 14% da população mundial.
6. Muitas vezes, são necessários recursos simples para que os povos empobrecidos tenham capacidade de produzir alimentos e se tornarem autossuficientes. Esses recursos incluem sementes de boa qualidade, ferramentas adequadas e o acesso a água.
7. Muitos peritos nas questões da fome acreditam que a melhor maneira de reduzir a fome é através da educação. As pessoas instruídas têm maior capacidade para sair do ciclo de pobreza que provoca a fome.
Calcula-se que o consumo anual de alimentos em todo o planeta seja de 375 milhões de toneladas e que a maior parte deste total provenha das plantas. Considerando-se que 10% deste alimento são vegetais consumidos in natura e que outros 10% são de folhas e talos aproveitáveis na alimentação e que são jogados fora, tem-se um desperdício de quase 4 milhões de toneladas de alimentos. Os números fazem parte do extenso relatório da ONU.
O desperdício se dá em todas as fases da produção de alimentos, desde o plantio e a colheita até o consumidor final. Calcula-se que hoje, no Brasil, 20% de toda a produção agrícola seja perdida durante a colheita e que outro tanto vá para o ralo durante o transporte ou devido a embalagens inadequadas. Esses índices de perda só são menores nos países do chamado Primeiro Mundo, mas há países que perdem até 70% de sua produção devido a fatores diversos - casos, principalmente, de nações centro-americanas, africanas e muitas asiáticas.
O mundo incinera milhares de toneladas de alimentos todos os anos devido à má conservação, deterioração ou contaminação por agrotóxicos. E esse desperdício está em todos os lugares; ocorre, muitas vezes, sem que percebamos. Só para se ter uma ideia, no Rio de Janeiro cerca de 40 toneladas de alimentos são perdidas diariamente. No Brasil, o último dado sobre a fome divulgado pelo IBGE, mostrou que 14 milhões de brasileiros passam fome. E a última publicação do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) aponta que 72 milhões de pessoas (39,8% da população) estão vulneráveis à fome em maior ou menor grau, porque têm preocupação com a falta de dinheiro para comprar comida. Por isso perderam qualidade em sua dieta ou ingeriram alimentos em quantidade insuficiente. São 18 milhões os domicílios afetados pelo problema, ou 34,8% do total no país.
Segundo outro estudo, elaborado entre agosto de 2010 e janeiro deste ano pelo instituto sueco SIK, 1,3 bilhão de toneladas de alimento são desperdiçados por ano. A quantidade equivale a mais da metade de toda a colheita de grãos no mundo. O estudo afirma que o mundo emergente e os países desenvolvidos desperdiçam aproximadamente a mesma quantidade de alimentos: 670 milhões de toneladas por ano nos países ricos e 630 milhões nas nações em desenvolvimento. Segundo o relatório da FAO, nos países ricos muitos alimentos vão para o lixo antes mesmo de expirar a data de validade. As médias de desperdício per capita também são muito maiores em países industrializados. Na Europa e América do Norte, cada pessoa desperdiça entre 95 a 115 quilos de alimentos por ano. Na África Subsaariana, a média per capita é de 6 a 11 quilos. O relatório destaca o impacto negativo do desperdício no meio ambiente.
O relatório afirma que "isso invariavelmente significa que grande parte dos recursos empregados na produção de alimentos é usada em vão, e que os gases que provocam o efeito estufa causados pela produção de alimentos que são perdidos ou desperdiçados também são emissões em vão", O documento da FAO informa ainda que no mundo emergente o problema maior é a falta de estrutura produtiva. Já nos países ricos, o principal fator é o comportamento dos consumidores. A quantidade total de alimentos desperdiçados nos países industrializados apenas pelos consumidores (222 milhões de toneladas) é quase equivalente ao volume de alimentos produzidos na África Subsaariana (230 milhões de toneladas).
Os dados do relatório "Perdas Alimentares Globais e Desperdício Alimentar"! serão discutidos no congresso internacional promovido pela FAO em Dusseldorf, na Alemanha, em breve.