Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
Os Estados Unidos estão desenvolvendo um projeto ambicioso de vigilância cibernética global, que deverá estar implementado até o fim deste ano na cidade de Buffdale, em um vale no estado de Utah. Ali está sendo construído o maior centro de espionagem do mundo, Utah Data Center. Segundo uma fonte do Departamento de Estado o projeto é "um verdadeiro templo da espionagem, onde serão capturados, armazenados e analisados uma enorme quantidade de palavras ou imagens que sejam consideradas suspeitas pela segurança americana". A pedido da " National Security Agency- NSA" (Agência de Segurança Nacional), órgão de espionagem americano, estão sendo investidos dois bilhões de dólares na construção desta fortaleza de tecnologia para espionar todas as informações circuladas pela internet. E a mesma fonte acrescentou que isto inclui e-mails pessoais, comprovantes de compras ou mensagens ultra-secretas de governos, qualquer dado que seja interessante ao governo americano que poderá ser rastreado e copiado.
Criado após o ataque de Pearl Habor, na Segunda Guerra, para impedir outro ataque surpresa, a NSA nunca funcionou como os outros serviços de inteligência militar e não evitou outros ataques terroristas, quando chegou a ser questionada a sua eficácia. Mas após o 11 de setembro teve um aumento bilionário no seu orçamento para poder "garantir a segurança americana" espionando países e pessoas suspeitos. Assim, em seis de janeiro de 2011, todas as pessoas da região de Utah receberam um alerta de que deveriam ficar em casa, aviões e jatos tiveram seus vôos atrasados ou cancelados no aeroporto da cidade. No local uma comitiva dirigida pelo vice-diretor da NSA, Chris Inglis, junto com o senador do Estado e outros membros do governo e das forças armadas americanas estavam presentes. Nesse dia, foi inaugurada a construção do centro de espionagem. Durante a coletiva, as perguntas dos repórteres foram respondidas com frases vazias ou com "Não tenho informações". Em pouco tempo, o púlpito usado no lançamento foi trocado por cerca de 10000 trabalhadores, que foram orientados a não falar sobre a obra.
Mesmo assim, ao longo dos anos, por informações vazadas, foi possível saber que está sendo construído um sistema antiterrorismo de 10 milhões de dólares capaz de suportar o choque de um veículo de 15 toneladas a 50 km/h, além de um circuito fechado de câmeras, identificação biométrica, mecanismo de inspeção de veículos entre outras formas de segurança dignas de grandes filmes de Hollywood. Dentro da fortaleza serão quatro espaços de 2500 metros quadrados com processadores e cabos subterrâneos. Além disso, haverá uma área técnica para operações e um sistema auto-suficiente com tanques de combustível capazes de alimentar geradores de energia por três dias e um sistema de abastecimento de água, esgoto e ar. Uma estação de energia elétrica também está sendo construída para fornecer os 65 megawatts necessários para funcionamento com um custo de 40 milhões de dólares por ano.
Segundo um dos técnicos que trabalharam na obra lembra que, com o avanço da tecnologia, "um simples pendrive á capaz de armazenar vários gigabytes de informações". E ele acrescentou que é quase impossível imaginar a quantidade que poderá ser armazenada no centro de espionagem, mas supõe-se que seja da ordem de 1024 bytes ou cerca de 500 quintilhões de páginas de texto. Quantidade tão grande que é a última escala já conseguida pelo homem. Essa quantidade é necessária, pois a cada ano aumenta a quantidade de dados analisados pelo serviço de espionagem americano que está instalado na maior parte dos países do mundo de forma virtual ou através de homens do serviço secreto.
Enquanto o projeto de Buffdale não está em funcionamento os Estados Unidos estão usando um programa secreto para obter informações de sistemas das maiores companhias de tecnologia e espionar a atividade virtual de milhões de pessoas, colocando uma sombra sobre a defesa da privacidade e da liberdade civil. A informação é de uma matéria do jornal britânico The Guardian e, citando ainda os incômodos com as tentativas do presidente Barack Obama de confrontar a China sobre um suposto programa de ciber-espionagem daquele país. O diretor da inteligência nacional James Clapper confirmou as informações do jornal britânico The Guardian sobre a prática da Agência de Segurança Nacional (ASN) com o uso de companhias como o Google, o Facebook e a Apple para obter informações. Segundo The Guardian, a informação pode ser coletada "diretamente dos servidores" através do sistema Prism. De acordo com outro jornal, o americano "Washington Post" entre as empresas cujos dados foram obtidos estão Google, Facebook, Microsoft, Apple, Yahoo, AOL e Paltalk.
A implementação do projeto de Buffdale ganhou força depois que um relatório do Pentágono divulgado recentemente pelo Washington Post, segundo fontes do Pentágono, nos últimos meses hackers chineses conseguiram acesso a projetos secretos contendo uma grande quantidade de sofisticados programas de armamento dos Estados Unidos, pondo em risco a tecnologia militar avançada deste país.
Segundo um documento do Pentágono citado pelo jornal, estas invasões constituíram parte de uma grande campanha chinesa de espionagem de agências de ponta, tanto terceirizadas como governamentais. Por isso, o Conselho Científico de Defesa, grupo de aconselhamento composto por especialistas do governo e civis, foi acionado e concluiu que os espiões digitais conseguiram acessar projetos de vinte e quatro sistemas de armamento que são da maior importância para a defesa contra mísseis, para aeronaves e para navios de combate e a espionagem cibernética deu à China acesso a uma tecnologia avançada capaz de enfraquecer a superioridade bélica americana no caso de um conflito. O relatório dos conselheiros do Pentágono não acusa formalmente Pequim de roubar os projetos, porém as conclusões ajudam a explicar as recentes advertências americanas ao governo chinês.