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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
ALIANÇA DO PACÍFICO CONTRA O MERCOSUL
   
Existe hoje na América Latina uma guerra declarada entre dois grandes blocos: de um lado o MERCOSUL, com mais de vinte anos de criado, liderado pelo Brasil e tendo como parceiro maior a Argentina, que marca sua atuação pela lentidão nas decisões e por posições políticas radicais mais à esquerda e, do outro, a recente fundada Aliança do Pacífico, sem preocupações ideológicas e voltada para um novo esquema de integração aberto ao comércio mundial, de decisões rápidas e com ênfase nas relações com a Região Ásia na esfera do Pacífico, integrando os governos do México, Peru, Chile e Colômbia. Para os observadores internacionais, uma conjugação de ações conjuntas pelos dois blocos, pelo menos no momento, parece totalmente impossível.

Segundo fontes diplomáticas do Paraguai, recentemente aceito pelo órgão, o Brasil solicitou o ingresso do MERCOSUL como membro, mas o pedido foi recusado sob a alegação das lideranças de que "a Aliança do Pacífico é um bloco capitalista e não há lugar para países socialistas". Sobre a informação da recusa, com o intuito de evitar interpretações negativas ao MERCOSUL, o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que a "resposta não tira o sono do Brasil".

Mas o senador gaucho Pedro Simon tem uma posição diferente, conforme artigo publicado no jornal "Zero Hora", onde, analisando as relações do MERCOSUL com a Aliança, declarou: "É com angústia que vejo e analiso as declarações de autoridades diplomáticas brasileiras sobre a Aliança do Pacífico. Houve quem afirmasse que mas é não apropriada quando se trata de um tema vital para os interesses estratégicos do país. Assim, a criação de um novo bloco de países na América Latina, com suas implicações geopolíticas, comerciais e econômicas é analisada de forma superficial. Não se concebe que esse acontecimento não cause a mais leve apreensão, tanto por parte do governo, quanto pelo Itamaraty".

E o senador prossegue: "Ao contrário, o assunto é visto com displicência, um quase desdém, embora a Aliança do Pacífico tenha potencial para causar forte impacto no sonho da integração latino-americana. A começar pela redução do poder de atração representado pelo MERCOSUL, criado há duas décadas e em permanente instabilidade. A Aliança representa um forte contraponto à influência política e econômica do Brasil na região. Formada há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru, contabilizou no ano passado US$ 556 bilhões em exportações, contra US$ 335 bilhões registrados no comércio tradicional entre os países que integram o MERCOSUL.

É compreensível que a Aliança, subestimada no Brasil, seja acompanhada com maior objetividade por outros países. Estados Unidos, Canadá, Panamá e Costa Rica estão mais diretamente interessados. Ao mesmo tempo, França, Japão, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália enviaram observadores à recente reunião de cúpula do grupo. É quase inacreditável que todo esse barulho em nossa vizinhança, não desperte qualquer curiosidade por aqui. Tanta movimentação política e comercial na nossa retaguarda deveria, isso sim, despertar luzes amarelas piscantes no Itamaraty".

Um dos primeiros sinais da animosidade entre os dois blocos pode ser detectado durante uma visita à Colômbia em abril de 2012 do primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, quando ouviu um comentário categórico do presidente colombiano, Juan Manuel Santos: "Aqui não expropriamos". Era uma crítica direta à Argentina, onde, dias antes, autoridades em Buenos Aires haviam confirmado a nacionalização do controle da empresa petrolífera espanhola Repsol Yacimientos Petrolíferos Fiscales. Ao tentar definir o bloco que havia ajudado a idealizar, o ex-presidente do Peru, Alan García, afirmou que a Aliança do Pacífico não é uma integração romântica, uma integração poética, e sim uma integração realista diante do mundo e para o mundo.

Mas a Aliança do Pacífico, não representa unicamente o estabelecimento de uma plataforma para o intercâmbio de bens e serviços. A declaração divulgada ao final da IV Reunião do grupo, realizada em Antofagasta (Chile), lembra que o livre trânsito dos indivíduos constitui uma de suas metas. Da mesma maneira, a Aliança propõe o estabelecimento de um programa de intercâmbio de estudantes matriculados nas universidades de seus membros, iniciativa cujo início está previsto ainda para 2013. Por sua vez, uma rede de pesquisadores dedicados à pesquisa sobre mudanças climáticas foi criada em abril de 2012. Finalmente, prevê-se a realização de atividades culturais na Ásia, com o objetivo explícito de reforçar o patrimônio comum compartilhado pelas duas regiões.

Talvez esse leque de oportunidades tenha se superposto às opções puramente ideológicas dos governantes que passaram a integrar o novo bloco. Um dos países que servem de exemplo é o Peru, presidido por Ollanta Humala. Em sua campanha eleitoral de 2011, ele discursando para uma pequena platéia de agricultores em Lima, afirmou que no tempo dos Incas não havia tratados de livre-comércio e, nem por isso, as pessoas passavam fome. Destacava desta forma o passado indígena idealizador de seu partido, o Partido Nacionalista Peruano, (PNP) e a aversão da esquerda aos acordos comerciais que beneficiaram o Peru nos últimos anos. Humala como presidente seria, em tese, ao lado de Evo Morales da Bolívia e Rafael Correa do Equador mais um líder esquerdista a dar suporte ao modelo bolivariano de Hugo Chávez.

Se seguisse nesta linha, provavelmente teria optado por ingressar no MERCOSUL, que se tornou mais um grupo político do que uma união aduaneira. Mas surpreendeu. Executou uma reviravolta política radical e tornou-se um exemplo de político que, apesar de suas preferências ideológicas, se rendeu à realidade e reconheceu que a maneira mais eficiente de reduzir a pobreza de seu país seria aderir ao livre-comércio, atrair investimentos estrangeiros e não adotar políticas protecionistas e de hostilidade ao capital estrangeiro como fez Chávez quando vivo e Morales. Por isso, em 23 de maio de 2013, Humala estava em Cali, ao lado do presidente colombiano , Juan Manuel Santos, do mexicano, Enrique Penã Neto, e do chileno Sebastián Piñera, para sacramentar a entrada em vigor da Aliança do Pacífico. E deixou o MERCOSUL para trás.

No tocante à rapidez das ações, enquanto o MERCOSUL está há mais de dez anos discutindo um acordo de livre comércio com a União Européia, a Aliança já atraiu França, Espanha e Portugal como membros observadores. Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada da FGV avalia: "Para atrair investimentos a Aliança é muito mais interessante que o Brasil, porque é do tamanho do país, mas cresce mais rápido e tem condições melhores em termos de qualidade de políticas, com inflação baixa e economias menos fechadas. O efeito mais imediato da Aliança do Pacífico para o Brasil é a perda de clientes ao redor do mundo, em uma época em que as exportações brasileiras já estão em queda".

Segundo seu colega Edvaldo Alves, professor de economia internacional, "um produto chileno ou mexicano, exportado para a China ou para os Estados Unidos, não pagará tarifas, enquanto um brasileiro arcará com algo entre 20% e 35%. Outra conseqüência altamente negativa para o Brasil é que o fluxo de investimentos estrangeiros será direcionado ainda mais para os países da Aliança, por oferecerem um clima melhor para os negócios e pouca ingerência governamental". E o professor acrescenta: "Mais um problema para o Brasil que com elevado déficit em transações correntes está dependendo atualmente para equilibrar suas contas, da manutenção de elevados níveis de entrada de capital estrangeiro". Sobre essas dificuldades os analistas concordam em um ponto: enquanto o MERCOSUL está preocupado em incluir países de pouca expressão econômica como o Suriname, o Equador e a Bolívia, a Aliança virou vedete mundial em apenas um ano. À cúpula em Cali, compareceram observadores da Espanha, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Portugal e Canadá. Os caribenhos mais evoluídos, Costa Rica e Panamá, já pediram para entrar.

Na primeira parada de sua viagem pelas Américas Latina e Central, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou em 27 de maio ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que os americanos querem ser observadores da Aliança do Pacífico. Segundo alguns jornais americanos com isso fica consolidada a realidade de que a Aliança do Pacífico representa um isolamento do Brasil e do MERCOSUL.



   
 
 
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