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Alvaro Valle
Alvaro Bastos Valle

Patrono
CHAVE DO CÓDIGO DA VIDA
   
Você é negro, preto, mulato ou pardo? Esta pergunta sempre foi fonte de controvérsias. Mas agora a resposta foi surpreendente: a maioria dos jovens assume que é negra.

A constatação é das jornalistas Dayanne Mikewis e Joni Anderson, analisando entre várias respostas do último censo, uma da estudante Sara Silva Pereira Brito, de 16 anos, que, decidida, não hesitou ao assinalar o preto como sua cor quando ouvida em sua escola em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. E explicou: "Eu sou negra, nunca tive dúvida disso. Parda, nem pensar. Uma professora de história que sou, acho que na 8ª série, explico o que isso significa, que pardo não é raça. É uma maneira para a gente dizer que não é negro. Gostar mesmo, eu gosto é de ser chamada de preta". Mesmo assim, a maioria dos estudantes optou pelo pardo.

Em 2005, cientistas americanos que investigam o genoma humano, decifraram o gene slc24A5 que determina a transmissão da herança da cor da pele humana. Verificaram que os descendentes de europeus (europeus-caucasianos) possuem uma variante deste gene conseguida através de mutação ao longo do processo evolutivo da espécie.

Estudos posteriores revelaram ainda que pessoas mestiças portadoras da forma "europeia" do gene tendiam a apresentar a pele mais clara, o que os levou a concluir que a contribuição desse gene na formação do fenótipo da cor da pele é de 38 por cento, portanto maior que a contribuição dos genes responsáveis por transmitir a cor escura entre a população dos mestiços. Eram os mulatos, que etimologicamente provém da palavra mula, pois é resultado do cruzamento de jumento com égua e não se tome por pejorativo, mas porque gera uma cria resistente.

Esta descoberta faz cair por terra a proporcionalidade dos fenótipos dos indivíduos esperados pela Lei da Segregação Independente dos genes ou Segunda Lei de Mendel para a característica da cor da pele humana, na qual o número de descendentes para mulatos claros deverá ser significativamente maior.

Um exemplo, em que podemos observar o efeito da versão "europeia" do gene para cor da pele é o povo brasileiro, que, hoje, é constituído, em sua maioria, por mulatos claros, portanto observa-se um clareamento da população ao longo dos anos segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As denominações para o fenótipo cor da pele humana usados em genética como de mulato claro e médio, possuem diferente conotação social dependendo da cultura do país de origem do indivíduo. Na cultura brasileira, por exemplo, os mulatos claros são chamados de brancos, assim como os mulatos médios de morenos claros, e os mulatos escuros sem características fisionômicas da etnia negra também são chamados de morenos.

Em casos de investigação de paternidade, a cor da pele constitui-se em uma das provas não sanguíneas de transmissão genética para exclusão do suposto pai, isto significa dizer que existem casos em que a exclusão do suposto pai é possível.

Casos em que se pode excluir a paternidade (nos casos possíveis de exclusão, o exame de DNA apenas irá confirmar o resultado obtido) No cruzamento entre mulatos claros não pode haver descendentes mulatos escuros e negros.

No cruzamento entre brancos não pode haver descendentes mulatos ou negros.

No cruzamento entre negros não pode haver descentes mulatos ou brancos.

Casos em que não se pode excluir a paternidade pelocasal ser composto por branco x negro; mulato médio x mulato médio.

Nota: nestes casos, pode haver descendentes com todas as possibilidades fenotípicas, não havendo possibilidade de exclusão, e a identificação da paternidade só será possível com o exame de DNA.

Na determinação da cor da pele dos descendentes de um suposto casal, é realizado um estudo sobre a cor da pele dos familiares de ambos os envolvidos, o que possibilita a determinação do genótipo do casal.

Dessa forma, conhecido o genótipo dos pais, se calcula as possibilidades genotípicas e fenotípicas dos filhos.

Segundo José Luiz Petruccelli tudo é uma questão complexa, mas não a ponto de inviabilizar os estudos sobre relações raciais no Brasil e garantir políticas afirmativas para quem precisa. São 25 anos de estudos acadêmicos baseados no quesito cor e em questões correlatas que falam da desigualdade racial.

Para o pesquisador do IBGE, os pretos e pardos vivem em condições muito parecidas, mas ainda muito distantes dos brancos em termos de bons indicadores de qualidade de vida. Se isolarmos apenas os pretos, eles são os que têm as piores condições de moradia, de renda, de estudo. Além disso, o mito da democracia racial brasileira passou muito tempo pelo ocultamento da informação sobre cor e raça dos indivíduos - o que impede ou dificulta o monitoramento da discriminação racial ainda hoje. Por isso mesmo, negro, preto, pardo ou moreno - mesmo sendo termos dos mais comuns para a maioria dos brasileiros - geram polêmica, erros e acalorados discursos assertivos em todas as esferas sociais.

O pesquisador prossegue dizendo que nas pesquisas do Censo feitas pelo IBGE, é apresentada uma relação com as cinco nomenclaturas utilizadas e as pessoas precisam indicar a qual cor pertencem. Cada pessoa tem liberdade para dizer a sua classificação. Os pretos normalmente são as pessoas que se enxergam com a cor mais escura. Mas em relação aos pardos não há consenso. Normalmente são as pessoas que se classificam como morenas ou mulatas, mas isso depende na região.

Mulato é um termo que designa uma pessoa que é descendente de africanos europeus (mestiço). Podem apresentar os mais variados perfis fenotípicos e culturais. A maioria dos estudiosos confirma que o termo vem das palavras em espanhol e português para a mula, que por sua vez, baseiam-se no termo em latim para o mesmo animal, mulus. A mula é o produto resultante do cruzamento do cavalo com burra ou do jumento com égua. Como significa um produto hibrido (mistura de raças), passou a aplicar-se ao filho de homem branco e mulher negra ou vice-versa. A palavra foi usada pela primeira vez cerca de 400 anos atrás, durante o período escravista. Na comparação implícita pode ter entrado o interesse dos escravocratas em justificar a escravidão e todas as perversidades contra os escravos, passando a ideia de que eram próximos, mas não pertenciam à mesma espécie dos brancos.

A maioria dos etimólogos e lexicógrafos descarta a hipótese de que mulato poderia vir do étimo árabe mowallad ("filho de árabe e estrangeiro"), e que poderia estar relacionado comwalada ("dar à luz"). Eles ressaltam que mulato é certamente ligado ao comércio atlântico de escravos.

O dicionário Aurélio é claro: negro é o individuo de raça negra e de cor preta. Já a definição para pardo é o mulato, aquele que tem cor entre o amarelo e o castanho ou entre o preto e o branco. E preto significa a cor da pele dos negros, a cor do ébano e do carvão. Os dicionários em geral escorregam quando também reservam uma segunda definição, pouco louvável, para qualquer uma das três opções do título desta reportagem. Para negro, há a associação que remete ao que é muito triste e fúnebre. Pardo é o "branco duvidoso, sujo, de cor pouco brilhante". Preto também pode ser empregado a quem tem "a mais sombria de todas as cores". Por isso mesmo, não é à toa que grande parte da população negra não se reconhece como tal. E, muitas vezes, tenta disfarçar o que a realidade não nega.

Bruno Dallari, professor de linguística da PUC de São Paulo, discorda ao dizer que a carga está na boca e na palavra de quem fala. Preto, por exemplo, é parte da linguagem coloquial e muitas vezes não é pejorativo. Já a palavra negro, quase sempre está relacionada à raça. A palavra pardo é a mais aceita, a que sofre menos rejeição pelo povo, é o status intermediário. Pretos e pardos não podem ser classificados do mesmo jeito porque, no olhar das pessoas, não são os mesmos.

Em termos de estatísticas, os pardos ou mestiços vivem numa realidade que é muito mais próxima da dos negros. Entre eles há mais baixa escolaridade, alta taxa de desemprego, subemprego. Em busca de um denominador comum, até mesmo o governo federal reconheceu recentemente que pisou na bola ao retirar de circulação, às pressas, uma cartilha de alfabetização, que, entre outras coisas, considerava a palavra negro politicamente incorreta. "Era de uma imbecilidade tremenda", diz Bruno Dallari.

Provavelmente a cartilha ensinava que o correto, em vez de negro, é o termo afro-brasileiro. Ridículo e artificial. É quase uma ode à hipocrisia, uma manifestação de desprezo ou de um falso respeito.



   
 
 
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