Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
O Papa Francisco, em sua recente viagem ao Brasil, nas homilias, por diversas vezes enalteceu como já havia feito no Vaticano, nossa posição de maior país católico do mundo. Entretanto, o Brasil não é apenas o maior país católico.
As pesquisas realizadas por diversos órgãos como o IBGE ou a FGV indicam que é também o maior país cristão. A presença do Cristo no Brasil é muito forte e foi consolidada ao longo da colonização pelo sincretismo religioso e pelas sucessivas guerras e perseguições religiosas na Europa que provocaram fugas de refugiados para a América e o Brasil. Segundo relata Pero Vaz de Caminha, a figura de Jesus Cristo foi mostrada aos índios no dia seguinte ao descobrimento, na primeira missa rezada na nova terra. Com a vinda dos escravos africanos para impulsionar nossa economia, os padres decidiram doutriná-los, não somente nas questões sociais, mas também, na religiosidade. Para tanto elaboraram uma série de táticas de catequização e dedicaram-se de corpo e alma nesta tarefa.
Entretanto, os escravos foram mais inteligentes e desenvolveram um sistema para continuar seus ritos de berço, dando origem ao sincretismo religioso na nova terra. Os escravos, nos ofícios religiosos, rezavam diante de uma imagem de um santo católico, porém no idioma Ioruba, ininteligível ao padre, quando, na verdade, prestavam suas devoções aos deuses africanos. Os europeus eram enganados e acreditavam que a catequização dos negros estava dando certo. Alguns estudiosos dizem que esse sincretismo começou na África mesmo, para se contrapor à ação dos missionários. Esses mesmos estudiosos afirmam que os africanos usavam altares como camuflagens, quando, na realidade, oravam a seus deuses (Orixás, Nkisis ou Voduns).
Observaram Jesus, Maria, rituais da igreja e algumas imagens de santos católicos. Outros, mais fundamentalistas, optaram pela reavaliação desses conceitos, resgatando a cultura passada, a fim de tornar o candomblé mais próprio, e menos alterado. Esse foi um fator muito forte na história do candomblé. Foi um fator tão forte que até hoje podemos encontrar similaridades entre religiões de matrizes africanas com o catolicismo. Os deuses africanos foram associados a personagens, Santos Católicos para facilitar a prática às escondidas:
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Exú - Santo Antônio.
. Omolú - São Roque ou S. Lázaro.
. Ogum - São Jorge em uns locais e Santo Antônio em outros.
. Yemanjá - Nossa Senhora dos Navegantes.
. Oxum - Nossa Senhora da Conceição.
. Xangô - São Jerônimo, São João Batista e São Miguel Arcanjo. Em alguns lugares - São Pedro.
. Oxóssi - São Sebastião e São Jorge.
. Iansã - Santa Bárbara.
. Ibeji - São Cosme e Damião.
. Obá - Santa Rita de Cássia e Joana D'Arc.
. Nanã - Santa Ana.
. Oxumarê - São Bartolomeu.
. Oxalá - Jesus Cristo e Nosso Senhor do Bonfim.
Entretanto, algumas religiões "irmãs" do candomblé como a umbanda, preservam a tradição do sincretismo, quando o próprio candomblé, na maioria dos casos, já extinguiu esse costume.
A principal religião do Brasil, desde o século XVI, tem sido o catolicismo romano. Ela foi introduzida por missionários jesuítas que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto. O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais, com 64,6% da população declarando-se católica, de acordo com o Censo do IBGE de 2010. Mas no transcorrer do século XX, foi perceptível uma diminuição no interesse pelas formas tradicionais de religiosidade no país. Um reflexo disso foi o aparecimento de grande número de pessoas que se intitularam católico "não praticante". Uma pesquisa de 2007 da Fundação Getúlio Vargas, no entanto, indicou índices que mostraram que o número de católicos estagnou no país depois de mais de 130 anos de queda. Segundo dados do Censo do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o total de católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010, havia 123,2 milhões de católicos no país. Em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos, a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba.
Por força da Constituição, o Brasil é um Estado laico. Isto quer dizer que a Igreja e o Estado estão oficialmente separados. Sua legislação proíbe qualquer tipo de intolerância, sendo a prática religiosa livre no país. Segundo o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa de 2005, elaborado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a "relação amigável entre religiões contribui para a liberdade religiosa no Brasil. O Brasil é um país religiosamente diverso, com a tendência de mobilidade entre as religiões e o sincretismo religioso".
A população é majoritariamente cristã (87%), sendo sua maior parte católica (64,4%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Também estão presentes os movimentos básicos do protestantismo: adventismo, batistas, evangelicalismo,luterano, metodismo e presbiterianismo. No entanto, existem muitas outras denominações religiosas, como pentecostais, episcopais, restauracionistas, entre outras. Há mais de três milhões e meio de espíritas (ou kardecistas) que seguem a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec.
Nas últimas décadas, tem havido um grande aumento de igrejas neopentecostais, o que diminuiu o número de membros tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-brasileiras. Cerca de noventa por cento dos brasileiros declararam algum tipo de afiliação religiosa no último censo realizado.
Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil estão às peregrinações à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o quarto santuário mariano mais visitado do mundo e é capaz de abrigar até 45.000 fiéis. A Renovação Carismática Católica (RCC) chegou ao Brasil no começo dos anos 1970. O movimento busca dar uma nova abordagem à evangelização e renovar algumas práticas da tradição católica, incentivando uma experiência pessoal com Deus através do Espírito Santo. Assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais, como no uso dos dons do Espírito Santo, na adoção de posturas que são consideradas fundamentalistas e numa maior rejeição ao sincretismo religioso por parte de seus integrantes.
O protestantismo é o segundo maior segmento religioso do país, representado principalmente pelas igrejas evangélicas, com cerca de 42,3 milhões de fiéis, o que representa 22,2% da população brasileira. Entre as maiores denominações protestantes em número de adeptos estão os batistas (3,7 milhões), adventistas (1,5 milhão), luteranos (1 milhão), presbiterianos (921 mil) e metodistas (340 mil). Entre os pentecostais e os neopentecostais, os grupos com o maior número de seguidores são a Assembleia de Deus (12,3 milhões), a Congregação Cristã no Brasil (2,3 milhões), a Igreja Universal do Reino de Deus (1,8 milhão) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (1,8 milhão). O segmento religioso cristão protestante apresentou um forte crescimento no país nos últimos anos, aumentando o seu número de seguidores em 61% no período compreendido entre 2000 e 2010.
O protestantismo chegou ao Brasil pela primeira vez com viajantes e nas tentativas de colonização por huguenotes (nome dado aos reformados franceses) e reformados holandeses e flamengos durante o período colonial. Esta tentativa não deixou frutos persistentes. Uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu, em 1557, numa das ilhas da Baía de Guanabara, fundando aFrança Antártica.
Os dados do Censo 2010 mostram que as religiões evangélicas de origem pentecostal são as que têm a maior proporção de fieis com renda per capita inferior a um salário mínimo: 63,7% do total. Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também mostram diferenças entre as áreas rurais e urbanas do país. Nas zonas rurais, 77,9% são católicos e 10,1% são evangélicos de origem pentecostal, enquanto nas zonas urbanas esses percentuais são de 62,2% e 13,9%, respectivamente. Na média do país, 64,6% se declararam católicos e 12,2%, evangélicos pentecostais.
O mormonismo chegou no Brasil em 1923, por meio de imigrantes alemães, porém o trabalho de proselitismo só se iniciou em 1928. De acordo com dados do IBGE, existiam 226 509 mórmons no Brasil, apesar de dados da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias relatarem possuir pouco mais de 1,1 milhão de adeptos no país, com um crescimento de aproximadamente 460% nos últimos seis anos.
A Igreja Mórmon no Brasil é presidida pelos Élderes (título que significa "senhor","Irmao mais velho", "ancião") Cláudio R. M. Costa (Presidente) , Carlos A. Godoy (Primeiro Conselheiro) e Jairo Mazzagardi (Segundo Conselheiro). Até abril de 2007, os mórmons eram divididos em duas áreas geográficas distintas, a Área Brasil Norte (sediada em Recife), e a Área Brasil Sul (sediada em São Paulo). No país, os mórmons, também chamados de santos dos últimos dias, têm seis templos construídos, dedicados e em funcionamento (em São Paulo, Recife, Porto Alegre,Campinas, Curitiba e Manaus) e dois a construir emFortaleza e Rio de Janeiro. Pela crença mórmon, nesses templos são realizadas ordenanças como batismo vicário e selamento de famílias, além de ser um lugar de aprendizado e espiritualidade. Somente membros batizados e dignos podem entrar os templos.A Igreja Mórmon realiza reuniões de adoração aos domingos em suas igrejas pelo Brasil que estão abertas ao público.
De acordo dados do Censo de 2010 do IBGE, existiam 1 393 208 Testemunhas de Jeová no Brasil, que se distribuem em 10.926 congregações. O Brasil é na atualidade um dos países com maior número de Testemunhas de Jeová. Em 2011, foram feitos 27.425 batizados no país. No evento da Comemoração da Morte de Cristo estiveram presentes 1.748.226 pessoas. Foram realizados 801.007 estudos Bíblicos pelas Testemunhas no Brasil. Foram dedicadas 145.889.031 horas na pregação das Boas Novas no país. Na mesma pesquisa, o Brasil possuía 3,8 milhões de espíritas, sendo esse o terceiro maior grupo religioso do país, representando cerca de 2% da população brasileira. Com efeito, o IBGE trata os termos kardecismo e espiritismo como equivalentes em sua classifição censitária.
A doutrina espírita teve através de nomes como Bezerra de Menezes e Chico Xavier a oportunidade de se popularizar, espalhando seus ensinamentos por grande parte do território brasileiro. Hoje, o país é o que reúne o maior número de adeptos do espiritismo no mundo. Os espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo os dados do mesmo Censo. Bezerra de Menezes foi presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB) por duas gestões. A FEB foi fundada em janeiro de 1884, por Elias da Silva, com a finalidade de unificar o pensamento espírita no Brasil.
Como doutrina filosófica, o espiritismo foi sistematizado pelo pedagogo francês Allan Kardec n'O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857. No Brasil, contudo, houve uma forte ressignificação das ideias espíritas, que foram carregadas de um viés muito mais religioso do que o existente na Europa. Foi dentro dessa perspectiva que o espiritismo foi amplamente divulgado no Brasil, ainda na segunda metade do século XIX, atraindo principalmente aclasse média. Em setembro de 1865, em Salvador, Bahia, foi criado o "Grupo Familiar do Espiritismo", o primeiro centro espírita brasileiro. Em 1873, fundou-se a "Sociedade de Estudos Espíritas", com o lema "Sem caridade não há salvação; sem caridade não há verdadeiro espírita". Esse grupo dedicou-se a traduzir para o português as obras de Kardec, como "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e "A Gênese".