Ronald de Carvalho, Jornalista - Instituto Alvaro Valle
O ataque punitivo à Damasco prometido pelo presidente Barak Obama, pelo uso do gás Sarin que matou milhares de civis, inclusive centenas de crianças, vai mexer com interesses muito mais econômicos que humanitários, de potências como a Rússia e a China que há anos vem dando apoio ao atual regime, além de diversos outros países, inclusive aliados dos próprios americanos. Isto porque, na opinião dos observadores internacionais, dois fatores tem agravado a guerra civil na Síria: a indústria armamentista e o rico mercado de trabalho informal de trabalho a toda sorte de mercenários.
O primeiro fator tem movimentado uma grande quantidade de armas novas, produzidas nos Estados Unidos, Rússia, China , países das União Europeia e, como sobras de guerras, material bélico antigo da Bósnia e de países africanos. E é este comércio, segundo esses mesmos analistas, que geram protestos de "ONGs e organizações pela paz" que começam na mídia internacional e terminam muitas vezes em vetos no Conselho de Segurança da ONU.
Já o segundo, desde o início do conflito, deslocou para a região seus agentes secretos infiltrados da CIA, do Mossad, do Hamas, da Rússia, da China, do Irã, da Al Qaeda e de dezenas de outros países e organizações terroristas do mundo, que vem agindo e ajudando indiscriminadamente os dois lados em luta. A verdade é que a guerra a Síria tem atraído grande atenção da comunidade internacional, e tanto o governo do presidente Bashar al-Assad, quanto a oposição vêm recebendo apoio de várias organizações e países pelo mundo. Alguns analistas interpretam o conflito como uma "guerra por procuração" em nível regional, entre Estados sunitas, como a Turquia, Arábia Saudita e Qatar, que apoia a oposição, que é de maioria sunita e países como o Irã, grupos no Iraque e no Líbano, que apoiam o governo sírio de maioria Alauita, ligado aos xiitas.
Em 1º de novembro de 2011, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) disse que não tinha nenhuma intenção de intervir militarmente na Síria, após o término de uma campanha de sete meses na Líbia. Mas no mesmo mês, o novo governo líbio passou a oferecer armas, dinheiro e até voluntários para a Síria, enviando 600 guerrilheiros daquele país para lutar em solo sírio em apoio à oposição. De acordo com o jornal israelense DEBKAFILE, em junho de 2013, a OTAN fez uma entrega de armamentos pesados para a oposição síria. Em junho de 2012, a agência de notícias Reuters informava que forças especiais britânicas teriam entrado na Síria para ajudar a oposição. Da mesma forma, membros do Serviço Aéreo Especial inglês também estariam fazendo operações em solo sírio. Também informou que a Arábia Saudita e o Qatar estariam supostamente, desde meados de 2012, usando uma base militar secreta em território turco para o fornecimento de armas e treinamento de rebeldes.
E em julho de 2012, o governo dos Estados Unidos passou a apoiar financeiramente o chamado "Grupo de Apoio sírio", que ajuda a financiar o Exército Livre da Síria. A CIA teria agentes trabalhando na região, facilitando o contrabando de rifles, armas antitanque e munição para fuzis, além de outros equipamentos, para a oposição síria. O Departamento de Estado americano também informou ter dado uma ajuda financeira no valor de US$15 milhões de dólares a grupos de oposição e, segundo relatórios divulgados, as forças armadas dos Estados Unidos manteriam até 150 soldados na Jordânia para ajudar no treinamento das organizações de guerrilheiros sírios. De acordo com o jornal Los Angeles Times, a CIA vinha treinando secretamente, em solo jordaniano, pequenos grupos de rebeldes pertencentes à milícias consideradas seculares. De acordo com a reportagem, essa ajuda teria começado no início de 2012 e daria foco ao treino no manuseamento de armas pesadas (em especial anti-tanque). Os governos americano e jordaniano negaram que tal fato estivesse ocorrendo à época. Em maio de 2013, Chuck Hagel, então secretário de defesa dos Estados Unidos, voltou a dizer que o governo americano não descartava a ideia de armar os rebeldes com equipamentos de guerra pesados, porém alertou que não havia intenção por parte dos americanos de lançar qualquer forma de intervenção armada direta.
Em uma conferência em Paris, França, em julho de 2012, países ocidentais e de árabes sunitas anunciaram que estariam "aumentando consideravelmente" o auxilio dado à oposição síria. A partir de 2012, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França passaram a fornecer a oposição síria enormes quantidades de armamentos não letais, incluindo equipamentos de comunicação e suprimentos médicos. A Inglaterra também dá apoio com inteligência a partir de sua base no Chipre, em cooperação com militares turcos e com rebeldes anti-Assad. A CIA apoia, tendo realizado operações clandestinas na fronteira entre a Síria e a Jordânia, ajudando rebeldes, contrabandeando armas e fornecendo outros tipos de apoio logístico. Os agentes de inteligência ocidental também ajudariam em formar novas rotas de suprimentos e treinamento no uso de equipamentos eletrônicos e de comunicação.
Além disso, o Serviço Federal de Inteligência alemão (BND) monitora movimentos do exército sírio, grampeia ligações telefônicas de membros do governo de Damasco e intercepta ligações de rádio a partir da Base Aérea de Incirlik, na Turquia, e também a partir de navios de reconhecimento da classe Alster próximos a costa síria. De acordo com reportagens feitas pelo jornal Bild, o BND tem uma rede de informantes dentro do Partido Baath. No início de 2013, o governo britânico e o francês anunciaram suas intenções de começar a enviar armamento pesado para os rebeldes, apesar do embargo de armas imposto da União Europeia, que vigorava até então. Em 27 de maio, a UE votou por suspender este embargo. Já autoridades americanas alertaram que não pretendem enviar armas pesadas para a oposição no momento, com medo de que esses equipamentos possam cair em mãos de grupos jihadistas.
Para agravar ainda mais o conflito, uma importante linha de suprimentos foi aberta na primavera de 2012, quando a Arábia Saudita e o Qatar anunciaram que estariam armando e financiando a oposição mais abertamente. Em 11 de agosto de 2012, a então secretária de estado americana, Hillary Clinton, disse que tanto os Estados Unidos, quanto a Turquia, estavam interessados em aumentar seu apoio operacional às forças rebeldes na Síria para ajudá-los a derrubar o presidente do país, Bashar al-Assad. Entre as ideias consideradas, estava criar uma zona de exclusão aérea sobre todo o território sírio.
Ao fim de maio de 2013, o senador americano John McCain visitou a Síria e se encontrou com lideranças rebeldes no território. O político republicano tem sido uma das principais vozes nos Estados Unidos em favor da oposição síria, pedindo ao governo Obama que reconsiderasse sua visão de não armar os rebeldes com equipamentos pesados. Ele também é defensor de uma zona de exclusão aérea sobre o país e advoga por uma maior influência americana na região.
A disposição dos americanos em interferir na derrubada de Bashar Al Assad já vem de algum tempo. Em 14 de junho de 2013, o vice conselheiro de segurança da Casa Branca anunciou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizou um aumento na ajuda militar ao Exército Livre da Síria. Fontes ligadas à liderança americana afirmaram que os Estados Unidos haviam rejeitado a ideia de uma zona de exclusão aérea sobre a Síria. Esta noticia veio após os serviços de inteligência ocidentais supostamente confirmarem que o governo de Assad usou armas químicas em combate, algo que o presidente Obama afirmou que "não seria tolerado". Chuck Hagel, secretário de defesa americano, confirmou que os Estados Unidos iriam apenas fornecer armamentos leves, suprimentos e munição para as forças da oposição e que a CIA iria se dispor a treinar os rebeldes sírios.
Ao mesmo tempo, os americanos reforçaram sua presença militar na Jordânia, vizinha da Síria, enviando um esquadrão de aviões e um contingente de fuzileiros navais. Em 27 de junho, a Câmara dos Representantes americana aprovou uma resolução que impediria o governo americano de criar uma zona de exclusão aérea sobre a Síria sem aprovação do Congresso. Fontes ligadas a autoridades americanas afirmaram que o armamento que seria dado aos rebeldes seria leve, com algumas armas antitanque, mas não seriam entregues equipamentos pesados ou avançados (o que era algo pedido pela oposição síria). Contudo, em julho, o Congresso dos Estados Unidos decidiu barrar os planos da administração Obama de armar os rebeldes com medo de que tais equipamentos pudessem parar na mão de fundamentalistas islâmicos ou de terroristas, como ocorreu com a Al Qaeda no Afeganistão. Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que a entrega de armas por porte do seu governo não era certo e sujeito a aprovação do Parlamento do seu país e que o crescimento do "extremismo" no lado da oposição seria um empecilho para qualquer forma de ajuda militar a eles.
Em 21 de junho de 2013, em uma entrevista a agência de noticias Al-Jazeera, o general Salim Idris, comandante do Exército Livre da Síria, afirmou que as primeiras armas vindas de "países amigos" chegaram às mãos dos rebeldes. Ele, contudo, não divulgou a origem do armamento. Uma semana antes, o governo americano e de vários países da Europa haviam afirmado que iriam passar a ajudar militarmente à oposição síria mas não confirmaram exatamente que tipo de apoio seria este.Segundo relatórios, os serviços de inteligência dos Estados Unidos passaram a usar abertamente a fronteira com a Jordânia para enviar grandes quantidades de armas e munição para as forças rebeldes, no fim de junho.
O governo da Arábia Saudita, supostamente, é uma das principais fontes de financiamento e armas para a oposição síria, auxiliando também no contrabando de armamento pesado, muitos destes vindos da Croácia, através de rotas clandestinas na fronteira jordaniana. As armas começaram a chegar aos rebeldes em dezembro de 2012, o que teria permitido aos rebeldes passar para a ofensiva em várias localidades contra as forças leais ao regime de Damasco.44Essas ações seriam uma resposta aos maciços envios de armamentos e suprimentos feitos pelo Irã para abastecer as forças do presidente Assad.
No começo de 2013, armas antigas da extinta Iugoslávia foram vistas sendo usadas por forças rebeldes em combate nas regiões de Dara, Hama, Idlib e Alepo. O ministério de relações exteriores da Croácia negou o envio de armas a Síria, e autoridades saudítas não comentaram sobre as recentes descobertas.44 Rifles de assalto oriundos da Ucrânia, granas feitas na Suíça e fuzis e rifles de origem belga também teriam ido parar nas mãos da oposição, por meio da Arábia Saudita.44 O governo dos Emirados Árabes Unidos também foram acusados de enviar, ilegalmente, vários carregamentos de armas oriundas da Europa.
Estados árabes sunitas estariam preocupados que os envios de armas do Irã para o governo sírio estejam mudando o "balanço de poder" na região, botando de um lado os governos sunitas contra o governo de Assad e Hezbollah, apoiados pelos iranianos.
Em julho de 2013, o novo líder da oposição, Ahmad Jarba, afirmou que o governo saudita estaria enviando para a Síria diversas novas "armas avançadas" para serem usadas pelos rebeldes.